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06/09/2005 - 15h13

Alexandre Borges viverá "gatão de meia-idade" na TV e no cinema; leia entrevista

ELLEN SOARES
Especial para o UOL, do Rio de Janeiro
  • Alexandre Borges se prepara para viver Alberto na novela <i>Belíssima</i>

    Alexandre Borges se prepara para viver Alberto na novela Belíssima

O ator Alexandre Borges viverá um "gatão de meia-idade" duplamente. Na TV, como o volúvel e ambicioso Alberto, de "Belíssima", trama de Silvio de Abreu que em novembro estréia no lugar de "América". E também no cinema, interpretando os conflitos de um homem em plena crise dos 40 anos no filme "O Gatão de Meia-Idade", de Antônio Carlos da Fontoura.

Atualmente o ator faz os ajustes finais para compor seu personagem na novela da Globo. "Ele é um paulistano egoísta e bem-sucedido, do tipo conservador, de família tradicional. Mas que, ao mesmo tempo, vive uma vida dupla: é um mulherengo pervertido", adianta.

Na comédia "O Gatão de Meia-Idade", Borges interpreta o personagem criado pelo cartunista Miguel Paiva e deixa de lado papéis mais complexos e soturnos, como ele mesmo definiu. O longa está previsto para estrear em março de 2006 e traz no elenco a atriz Júlia Lemmertz, mulher de Borges, Ângela Vieira, Cristiana Oliveira, Marisa Orth e Rita Guedes.

Em entrevista exclusiva para UOL Televisão, Alexandre Borges fala sobre seus novos desafios na TV e no cinema e conta, com muito orgulho, como faz para tocar o Espaço Cultural 2 de Arte, um núcleo cultural com duas salas de teatro e uma de cinema localizado no bairro da Pompéia, em São Paulo. "É um espaço alternativo com uma visibilidade boa, muita gente conhece. Tenho muito orgulho desse lugar".

UOL - Vamos começar por seu papel em "Belíssima", próxima novela das 21h que estréia na Globo em novembro. Quem é o Alberto?
Alexandre Borges - O Alberto é um cara de muita ambição, que sempre trabalhou, que não teve juventude, mas que chegou a uma posição de status dentro de uma fábrica de lingerie. Ele é irmão de Ornela (Vera Holtz) e trabalha como no departamento de marketing da fábrica, onde vive cercado de modelos. Ele é pai de uma menina de 18 anos, fruto de seu casamento com a grega Safira (Cláudia Raia), de quem é separado. Alberto também tem outro filho de cinco anos, que ele não quer ver e nem assumir. A criança nasceu de um caso extraconjugal com Valdete (Leona Cavalli), que trabalhava em sua casa. Ela se deixou seduzir pelo espírito galinha dele e engravidou para dar o golpe do baú.

UOL - O Alberto é mau-caráter ou apenas mulherengo?
AB - Ele tem um caráter ambíguo, mas não chega a ser um vilão. É um galinha, amoral e, ao mesmo tempo, banca o conservador. Tem a cabeça mais velha do que a idade: não quer que a filha se pinte, por exemplo. Ela quer ser modelo e ele não aprova porque trabalha no meio delas. Mas, ao mesmo tempo em que tem seus valores familiares no sentido de proteger a filha e querer que ela se cuide, rejeita o outro filho.

UOL - Certamente ele vai acabar se envolvendo seriamente com alguém, não?
AB - Justamente com a pessoa que cuida do filho que ele não quer assumir. A mãe não cuida do garoto, que fica aos cuidados de uma empregada, Mônica, personagem de Camila Pitanga. Ele vai se interessar por ela, que é uma mulher maravilhosa, mas vai haver essa relação de amor e ódio quando souber que ela cuida da criança. À primeira vista ele apenas deseja Mônica (galinhagem) porque ela é só uma empregada e não tem o status que ele aprecia. Mas, com o passar da novela, acho que vai acabar se apaixonando.

UOL - Tanto você quanto o Alberto tem a mesma idade. Há alguma semelhança entre você e o personagem?
AB - Nenhuma! Alberto é mais violento e mal-humorado do que eu. A não ser, talvez, na dedicação à filha, como eu tenho com minha enteada (Luiza, 18 anos) e teria com minha filha se tivesse tido uma filha cedo. Mas, ao mesmo tempo, ele despreza o filho - a dedicação é só para a menina.

UOL - E quanto às diferenças?
AB - Temos muitas diferenças. Não sou tão ambicioso quanto ele. Talvez pelo fato de não ter sido pai com 18 anos e isso faz uma diferença grande na vida da gente. Com certeza minha vida seria completamente outra. Vejo pela minha relação com meu filho, Miguel, que tive aos 34 anos, o tanto de responsabilidade e dedicação que tenho com ele.

UOL - Quando você descobriu a vocação de ator?
AB - Sempre sonhei ser ator. Desde os nove anos de idade, o teatro já era um lugar em que queria muito estar. Mas não consegui ser um ator-mirim, só fui ser ator mesmo depois dos 18 anos, quando decidi ir para São Paulo. Participei de coisas no teatro muito em função de meu pai, que é o diretor Tanáh Correa. Com ele convivi muito em peças e bastidores.

UOL - Que tipo de personagem prefere (vilão ou mocinho)?
AB - Não tenho preferência. O que me interessa é o que o personagem vai significar para as pessoas, sua a trajetória evolutiva (começo, meio e fim) e se me fará crescer e viver emoções novas, com sua experiência às vezes dura e marcante. Gosto quando o personagem tem essa função de aprofundar sentimentos e situações pelas quais, às vezes, nós passamos na vida real de maneira mais limitada, normal e realista.

UOL - Tem alguma coisa que te leva a aceitar um papel? Intuição, sonho...
AB - Acho que no Brasil o ator dificilmente diz "não" a um papel. Só se for um personagem de que eu realmente não goste, roteiro e peça com que não me identifique ou que não seja o momento. O que me leva a aceitar um personagem é o próprio fato de eu estar sendo convidado. Quando querem o meu trabalho, fico muito orgulhoso, feliz, e procuro sempre atender ao convite. É claro que nem sempre dá. Mas tento mesmo que o personagem seja aparentemente simples, procuro com a minha vivência deixá-lo o mais interessante possível.

UOL - Conte um pouco da sua trajetória teatral.
AB - O teatro foi o meu começo e o que me levou a ser ator. O teatro entrou na minha vida na infância. Desde garoto fazia teatro (amador). Depois, em São Paulo, trabalhei em peças profissionais num grupo importante na década de 80 até o começo dos anos 90 (Boi Voador). Fazíamos peças e readaptações de romances brasileiros. A experiência nesse grupo foi muito importante. Ainda em São Paulo, fiz parte da reabertura do Teatro Oficina. Fiz "Eu sei que vou te amar" (texto de Arnaldo Jabor) e "Dois perdidos numa noite suja" (de Plínio Marcos).

UOL - Na sua opinião, quais as diferenças entre o cinema, o teatro e a TV?
AB - São linguagens bem diferentes. O cinema e a televisão são mais fragmentados. São trabalhos que, às vezes, você faz de improviso, no susto. Enquanto no teatro, você pode descobrir coisas que o cinema e a televisão não permitem pela falta de tempo. O teatro permite essa viagem... Gosto muito de teatro. O teatro sempre esteve muito presente na minha vida. O cinema e a televisão vieram como conseqüência disso.

UOL - Que tipo de trabalho prefere fazer em cada veículo?
AB - Há uma diferença como veículo, mas o ofício do ator é basicamente o mesmo: fazer e construir um personagem. Na televisão, gosto mais da comédia ou então uma coisa ultra-romântica. No teatro, é indiferente. Tanto faz se é comédia ou drama. No cinema, aprecio personagens mais soturnos - tortos e com o pé na lama. Na linha de "O Invasor", de Beto Brant.

Divulgação
Paulo Miklos, Alexandre Borges e Marco Ricca em 'O Invasor', 2002
UOL - Por falar nisso, fale um pouco sobre seus trabalhos no cinema.
AB- "O Invasor", que fiz em 2001, mostrava a ambição, a ganância e a falta de caráter de uma pessoa classe média alta que não teve pudor em encomendar a morte do sócio. Em "Um Copo de Cólera" (Aluízio Abranches, 99), fui um cara que teve de lidar com a violência sexual e amorosa da paixão. Teve também "Traição"(1999), filme baseado na obra do Nelson Rodrigues, e "Terra Estrangeira", de Walter Salles, onde eu fazia um exilado drogado, tentando a vida como artista. Agora estou fazendo minha primeira comédia, "O Gatão de Meia-Idade", filme de Antônio Carlos da Fontoura.

UOL - Como é viver um "gatão" na crise dos 40?
AB - No filme ele é um cara que começou a ficar neurótico com sua falta de forma física e com as doenças que começam a aparecer. Buscamos muito essa transição. Ao mesmo tempo, existe uma problemática que é ser pai de uma menina de 15 anos, divorciado e que precisar sustentar as ex-esposas, a filha, a mãe e ele mesmo. É claro que 30 anos atrás, 40 anos já era considerado uma pessoa velha. Hoje em dia, há toda uma cultura de que realmente se está começando aos 40. Mas ainda é uma fase difícil para alguns.

UOL - Você passou já por essa crise?
AB - Não, mas posso imaginar porque tenho uma enteada de 18 anos e sei o que é isso. Quando eu e Júlia nos casamos, a Luiza tinha 5 anos e agora é uma moça! Não faz muito tempo, eu tinha essa mesma idade e é complicado. Ao mesmo tempo, rola essa relação de juventude: é pai, mas podia ser irmão mais velho e até namorado. E ainda pinta a vaidade que faz com que você se cuide para de repente não parecer um velho. Esse tipo de conflito é engraçado.

UOL - Fale sobre sua sociedade com a Júlia, sua mulher, na sala de cinema Lílian Lemmertz, em São Paulo
AB - Na verdade é um espaço cultural (Espaço 2 de Artes) composto pelo Cine Arte Lílian Lemmertz, o teatro Plínio Marcos e a sala Linneu Dias. É uma sociedade minha, da Júlia, do meu pai e da Orleide Faya. Meu pai achou esse espaço há cinco anos e nós alugamos estas três salas --duas de teatro e uma de cinema. Reformamos, compramos projetor de filme e inauguramos o espaço entre 1999 e 2000. A princípio, os filmes que passam são mais de arte, com preferência para os nacionais. Para os teatros, a gente tem o Projeto Mutirão, em que recebemos grupos e companhias de teatro profissionais e semiprofissionais de São Paulo, interior e de outros estados que se inscrevem para temporadas. Nós oferecemos luz, refletores, som, mala-direta de divulgação e toda uma estrutura.
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