UOL Entretenimento Televisão
 
05/08/2011 - 07h00

Peitos nus eram proibidos na praia quando foi ao ar o último capítulo de 'O Astro'

JAMES CIMINO
Editor-assistente de Entretenimento
  • Salomão Hayalla cai morto após receber uma coronhada no remake de O Astro

    Salomão Hayalla cai morto após receber uma coronhada no remake de "O Astro"

Quando foi revelado o assassino de Salomão Hayalla (então interpretado por Dionísio Azevedo) em 8 de julho de 1978, os jogadores de futebol de praia estavam proibidos de jogar sem camisa pelos militares, já que o Brasil ainda vivia sob o jugo da ditadura. O frescobol também estava vetado, enquanto a prática do surfe era restrita à praia do Arpoador, no Rio. As informações constam da biografia de Janete Clair, autora de "O Astro", escrita por Artur Xexeo. "Já ouvi muitos relatos de gente que viveu naquela época e que conta que minha vó era um alento nas noites do povo muito sacrificado pela ditadura. Então acho que de certa forma a situação política do país também contribuiu para o sucesso de 'O Astro'", conta Renata Dias Gomes, neta da autora Janete Clair que hoje segue a carreira da avó escrevendo "Amor e Revolução" no SBT.

Até a cantora Maria Bethânia, que dividia o palco pela primeira vez com o irmão Caetano Veloso no Canecão, pediu uma TV em seu camarim para acompanhar final da trama. Foi também a primeira vez que o Canecão não lotou para o então inédito show dos irmãos. A atriz americana Sissy Spacek, em visita ao Rio, também estranhou o fato de o badaladíssimo restaurante Saint Honoré, onde fora jantar, estar vazio. A média de audiência da novela era de 80%, segundo o site Teledramaturgia, criado pelo pesquisador e autor do livro “Almanaque da Telenovela Brasileira”, Nilson Xavier. Ultrapassava o ibope dos jogos da seleção brasileira na copa da Argentina.

Ontem, quando a Globo exibiu a cena em que o empresário Salomão Hayalla, interpretado por Daniel Filho, cai da janela de seu quarto após receber uma coronhada na cabeça, as concorrentes não tiveram chance. Às 23h53, quando a novela terminou, a Record, que exibia a eliminação em seu reality “A Fazenda”, amargava 9,6 pontos de Ibope contra 22,5 da Globo. O SBT marcou 6,5 e a Band 3,7. No capítulo anterior à morte do empresário, a novela marcava apenas 14 pontos. O crescimento foi de 40%.

 

  • Americo Vermelho/Folhapress

    Edwin Luisi, o assassino original de Salomão Hayalla em "O Astro"

Na época, as concorrentes também foram massacradas pela história criada pela “usineira de sonhos”, alcunha dada a Janete Clair pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, que publicou em sua coluna no Jornal do Brasil a famosa frase: "Agora que ‘O Astro’ acabou vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando." O jornalista Artur Xexeo relata na biografia da autora que, naquele dia, a Tupi exibia sua novela “Roda de Fogo” com Eva Wilma e Claudio Marzo, seguida pelo concurso de miss Brasil. A Bandeirantes colocou no ar luta livre e uma série americana chamada "Cyborg", enquanto o SBT, que apenas engatinhava na grade, veiculou o faroeste “Um Começo no Deserto”. Nada disso foi páreo para a trama.

Nilson Xavier conta que o segredo desse sucesso nada tem a ver com crítica social, como aconteceu quando Odete Roitman foi assassinada em “Vale Tudo” (1988), trama de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Básseres reprisada recentemente no canal a cabo “Viva”. “Janete estava preocupada em contar histórias folhetinescas, com fantasia. Como havia censura a novela das oito, que na época já começava às 20h25, não podia tratar de temas políticos e era uma grande válvula de escape da sociedade, embora Janete tenha sido censurada muitas vezes.”  Certa vez, a autora deu uma entrevista sobre as dificuldades em escrever "Fogo Sobre Terra", de 1974: "É preciso dizer que não tem sido fácil escrever 'Fogo Sobre Terra'. Por vezes, o telespectador deve ter achado um capítulo sem nexo, truncado, e deve ter imaginado que eu enlouqueci. Não é fácil dizer a verdade. E, às vezes, ela vai ao ar mutilada por mil injunções. De uma só vez, tive que rasgar 12 capítulos. E muitas cenas sairam de minha máquina e não chegaram ao vídeo."

Em seu site, Xavier conta ainda outras curiosidades. Na época em que "O Astro" foi ao ar, foi assinada a lei que regulamentava a profissão de ator no Brasil. A classe artística foi a Brasília, entre, eles, Daniel Filho, então diretor artístico da Globo, que foi recebido pelo então presidente Ernesto Geisel. O general perguntou a Daniel: "Diga uma coisa, quem matou Salomão Hayalla?". Ele respondeu: "Isso é segredo de Estado, e disso sei que vocês entendem!". Calou-se o general.

Leia trecho do resumo do capítulo em que Salomão morre em 1978

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
No capítulo 42, dá-se a notícia: Salomão Hayalla está morto. Seu carro fora encontrado em destroços. Depois, descobre-se que, na verdade, ele havia morrido antes, assassinado. Márcio então cumpre os desejos do pai: assume a direção das empresas, tendo Herculano como braço direito, e se casa com Jose. Lili é afastada dele por uma trama de Clô, que a manda para a prisão por um tempo.

Assim como hoje, Salomão Hayalla morreu no começo da trama. Especificamente no capítulo 42, exibido em 23 de janeiro de 1978. E a novela só pegou depois disso. Ele foi morto apenas com uma coronhada por Felipe, na época interpretado por Edwin Luisi, que era amante da mulher de Salomão, Clô (Tereza Rachel, hoje Regina Duarte). No entanto, na cena exibida ontem, há indícios de que o personagem tenha sido envenenado e que tenha discutido ferozmente com algum personagem.

É possível que o assassino seja diferente na nova versão, no entanto, Renata Dias Gomes disse ao UOL que manteria o assassino. Renata, que leu a sinopse original da novela, conta que os documentos, todos batidos a máquina pela avó, estão na fazenda de uma tia no interior de Minas Gerais.

“Foi lá que eu tive o primeiro contato com a obra da minha avó. Eu fui a primeira a fazer um inventário do que existia e aproveitei pra tirar uma casquinha. Mais à frente, um pesquisador foi a fundo e inventariou com mais cuidado, fazendo pequenas sinopses de tudo que existia, identificando o estado do material. Eu li a sinopse original da novela e os primeiros capítulos apenas batidos a máquina. Lembro-me de encontrar com a letra dela, escritos a mão, os nomes de alguns atores que ela queria na trama, como o Francisco Cuoco e o Tony Ramos. E a família Hayalla era para se chamar Riskala.”

Veja também

Carregando...
Hospedagem: UOL Host