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17/08/2011 - 19h01

Norma existe e mora em nosso insensato coração

JAMES CIMINO
Editor-assistente de Entretenimento
  • Norma no começo da trama: vítima da própria obsessão, terminaria assassinada

    Norma no começo da trama: vítima da própria obsessão, terminaria assassinada

Desde Nazaré (Renata Sorrah em “Senhora do Destino”), uma personagem feminina não chama tanto as atenções do público quanto Norma (Glória Pires), de “Insensato Coração”. Inicialmente uma auxiliar de enfermagem viúva, apagada, sem paixão, foi facilmente fisgada pelo psicopata Léo (Gabriel Braga Nunes). Ludibriada por um rapaz mais jovem, bonito e sedutor, apaixonou-se por ele a ponto de ir parar na cadeia e pagar por um crime que não cometeu.

Na prisão, aprendeu a sobreviver, pois tinha uma obsessão: sair de lá e se vingar do homem que a mandou para trás das grades, certo? Errado. Quem entendeu que o motivo da vingança de Norma foi a prisão, o pagar pelo crime que não cometeu, não entendeu nada da novela. A vingança de Norma contra Léo foi por ter sido rejeitada. “Se ela quisesse apenas vingança, teria entregue o vilão à polícia quando teve chance”, disse o autor da trama Ricardo Linhares. Claro, quem dedica sua vida a se vingar de alguém já está refém daquela pessoa. No caso de Norma, o pior não foi a prisão, mas a rejeição. Quanto mais alguém que amamos nos despreza, mais nos humilhamos, mais nos subjugamos àquele amor insensato.

Tanto é verdade que, em enquete realizada pelo UOL, o público da novela era quase unânime ao dizer que Léo tinha que morrer e que Norma tinha que ter uma segunda chance de recomeçar a vida. Mas Norma estava obcecada demais para deixar que Léo escapasse de suas garras e perdeu o controle, matou, enganou e terminou assassinada. Não antes de cair novamente na conversa do vilão, o que gerou revolta das feministas de plantão, afinal a novela mais uma vez mostra que as mulheres todas são idiotas.

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É óbvio que esse tipo de generalização é que é uma idiotice, mas, pasmem, neste vídeo, mulheres comuns entrevistadas pela repórter Thays Almendra afirmam já ter passado pela mesma situação de Norma. E existem muitas Normas por aí. Umas perenes, outras transitórias. Duas amigas da redação, mesmo revoltadas com o comportamento da personagem, admitiram: “É. Eu já dei uma de Norma.”

Muitos homens também já fizeram papel de Norma, ao mesmo tempo em que já fizeram papel de André (Lázaro Ramos), o cara que só quer saber de sair com todo mundo e não quer compromisso com ninguém, o cara que age com sinceridade para apenas descarregar a própria consciência. Sem falar nos homens que já bancaram a Carol (Camila Pitanga), insistindo em um sonho de relação que nunca poderia dar certo, e nas mulheres que agem feito Bibi (Maria Clara Gueiros).

A despeito de toda a racionalidade que adoramos vomitar por aí e de todo o cinismo a respeito dos nosso sentimentos, acho Norma uma personagem muito crível, pois é humana, profunda, cheia de nuances. Tanto que muita gente não sabia identificar se ela era heroína ou vilã. Nenhuma das duas e as duas ao mesmo tempo, como todo mundo é na vida real, só que sem a superlativação da ficção. Mas entendo que seja difícil de admitir que mora uma Norma dentro de nosso insensato coração, porque o que é bonito na ficção nem sempre é bonito na vida real.

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