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01/08/2011 - 07h00

Deborah Evelyn diz que existem Eunices no mundo real e cita caso do "gente diferenciada" de Higienópolis

CARLA NEVES
Do UOL, no Rio

Para Deborah Evelyn, intérprete da Eunice de “Insensato Coração”, não são poucas as mulheres como sua personagem na vida real. Tanto que ela diz que nem precisou ir muito longe para compor a mãe: ateve-se ao texto dos autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares e passou a observar exemplos do cotidiano. “Acho que a Eunice é muito comum e normal. Existe muita gente assim. Fiquei muito chocada quando teve uma história em São Paulo, da construção do metrô em Higienópolis, e teve uma mulher que disse que não queria que fosse construído o metrô perto da casa dela porque ia começar a aparecer gente diferenciada. Por que quem é que anda de metrô? São as pessoas mais pobres. Ela falou isso e fez um abaixo-assinado para o metrô não sair perto da casa dela, foi para os jornais. Aí pensei: ‘gente, olha uma Eunice aí!’”, contou a atriz, em entrevista exclusiva ao UOL.

Acho sempre delicado. Por exemplo, nem conhecia o Juliano [Cazarré]. Podia não ter me dado bem com ele. Mas me dei

Deborah Evelyn, sobre cenas de sexo na novela

Na reta final da novela, a atriz – que é casada com Dennis Carvalho, diretor da trama – falou sobre como é ser dirigida pelo marido nas cenas mais picantes de sua personagem com Ismael [Juliano Cazarré], adiantou detalhes do futuro de Eunice e contou que já tem até um final para a mãe de Cecília [Giovanna Lancellotti] e Leila [Bruna Linzmeyer]. “Acho que ela tem que se dar mal e pagar por tudo o que fez. Às vezes fico fantasiando, de brincadeira, ela no quartinho do Ismael [Juliano Cazarré] na Lapa, depois de ser expulsa pela família. Imagino ela trabalhando de faxineira durante o dia para trazer dinheiro para casa [risos]”, torce. Leia, a seguir, a entrevista completa:

UOL – De onde você tirou inspiração para compor a Eunice?
Deborah Evelyn –
No texto do Gilberto [Braga] e do Ricardo [Linhares]. Porque acho que a Eunice é muito comum e normal. Não precisei fazer laboratório para interpretar a Eunice. Não é um personagem distante. Existe muita gente assim. Fiquei muito chocada quando teve uma história em São Paulo, da construção do metrô em Higienópolis, e teve uma mulher que disse que não queria que fosse construído o metrô perto da casa dela porque ia começar a aparecer gente diferenciada. Por que quem é que anda de metrô? São as pessoas mais pobres. Ela falou isso e fez um abaixo-assinado para o metrô não sair perto da casa dela, foi para os jornais. Aí pensei: ‘gente, olha uma Eunice aí!’.

UOL – Mas você acha que ela tem um lado bom?
Deborah Evelyn –
Não acho que a Eunice seja boa em nada! [risos] O que acho é que como o Gilberto e o Ricardo construíram muito bem a personagem, tem cenas em que ela se justifica. Por exemplo, lembro de uma cena em que ela fala para as filhas por que é tão preocupada com o futuro delas. Diz que o pai não tinha dinheiro, ela não tinha como levar sanduíche para a escola, andava com o sapato furado. E é uma cena muito verdadeira, que tinha que ser feita com muita emoção e verdade. E aquilo é verdade para a Eunice! Por causa disso ela acha que as filhas têm que se casar bem. A diferença é que outras pessoas que passaram pelo mesmo que a Eunice passou não necessariamente têm que se transformar no que ela se transformou. Mas ela tem substância, estofo, não é chapada. É uma personagem 360°, é gorda. Por isso quando ela age assim é justificável.

UOL – O que as pessoas têm falado para você nas ruas sobre ela?
Deborah Evelyn –
O público fala muito carinhosamente comigo, diz: ‘você tá muito chata!’. Outro dia o pediatra da minha filha, que me conhece há anos, me ligou e disse: ‘Deborah, você tá muito chata!’. Aí respondi: ‘que bom que você sabe que não sou assim’. E ele disse: ‘mas tô começando a desconfiar que você é assim’ [risos]. E ela é chata para caramba mesmo. Nossa senhora! [risos]

UOL – O que a sua filha, Luiza, acha de sua atuação como Eunice?
Deborah Evelyn –
Ela vê muito pouco novela, mas acha engraçado quando vê. Porque ela sabe que não sou assim. Mas ela diz que os amigos dela da faculdade perguntam: ‘nossa, sua mãe também é chata assim?’. Ela ri, né? Porque a Eunice é risível. Ela chega num extremo. E o que acho interessante é que ela chega num extremo mas não é estereotipada. Por exemplo, na cena que ela foi pedir perdão para o Pedro [Eriberto Leão] – por mais que ela estivesse armando para ser convidada para o casamento – o perdão era verdadeiro.

UOL – A Cecília [Giovanna Lancellotti] finalmente vai casar com o Vinícius [Thiago Martins]. Mas no dia do casamento ele vai ser preso? Como a Eunice vai encarar essa situação?
Deborah Evelyn –
Vai ser o fim, né? [risos]. Para ela é o que de pior poderia acontecer, um vexame.

UOL – E o caso da Eunice com o Ismael [Juliano Cazarré]? Eles vão ser flagrados?
Deborah Evelyn –
Acho que esse caso deve vir à tona. Para mim, essa história foi construída para isso. A Eunice, que tanto luta pelos valores da boa família, ter um amante é para ser flagrada. Não sei ainda, mas acho que ela vai ser flagrada. Não dá para ela acabar impune.

UOL – Como você se sente quando faz alguma cena mais quente – como as da Eunice com o Ismael – e é dirigida pelo Dennis Carvalho?
Deborah Evelyn –
É muito tranquilo.É que as pessoas não têm noção. O que aparece na televisãoé muito real, mas não está acontecendo nada. Tem tanta coisa em volta. Tanta gente, tanto trilho, tanta luz. E a gente faz de novo porque a luz não ficou boa ou porque um errou o texto. O que vai ao ar não é o que aconteceu. Mas é muito tranquilo. Para a gente é como se fosse uma cena como outra qualquer.

UOL – E como o Dennis reage ao dirigir você nesse tipo de cena?
Deborah Evelyn –
O Dennis é muito pouco ciumento. Não é nada ciumento [risos]. Não sei se tem um lado voyeur. Aí tem que perguntar para ele. Mas é muito tranquilo.

  • Divulgação

    Ismael beija Eunice em "Insensato Coração"

UOL – Como você encara fazer cenas de sexo?
Deborah Evelyn –
Em “Insensato”, a gente não chega a fazer cena de sexo, mas temos cena de intimidade. Acho sempre delicado. Por exemplo, nem conhecia o Juliano [Cazarré]. Podia não ter me dado bem com ele. Mas me dei. E normalmente você faz cena de intimidade com quem você não tem. Então acho bom fazer tendo um diretor cuidadoso e delicado. Porque as cenas têm que ser tratadas de uma forma especial. A gente fica muito exposto – não só fisicamente, mas na alma.

UOL – Mas você e o Juliano conversam sobre a cena antes de gravar?
Deborah Evelyn –
Logo antes de começar essa história do caso da Eunice com o Ismael, conversei com o Juliano [Cazarré] e perguntei: ‘como é para você fazer esse tipo de cena?’. Porque acho muito complicado. E ele falou: ‘eu também!’. E começamos uma intimidade daí. Mas não são cenas que vão adiante, não tem o sexo em si. É um pouco mais tranquilo, mas acho são cenas que precisam ser mais bem cuidadas sempre.

UOL –Você e o Dennis [Carvalho] falam sobre trabalho quando chegam em casa ou é assunto proibido?
Deborah Evelyn –
Não é assunto proibido nem incentivado. É como se fosse um médico que chega em casa e é casado com uma professora. As pessoas trocam as coisas da vida. Alguns dias menos, outros mais. ‘Ah, hoje operei alguém’ e ‘ah, hoje dei uma nota ruim para aquele aluno que adoro e fiquei arrasada’. Acho que a vida é tão maior do que o trabalho. Tem tantas outras coisas que preenchem a vida individualmente, a vida de um casal, a vida de uma família. Obviamente o trabalho faz parte, mas não é só. E quando você fala: ‘não falo de trabalho’ você também acaba dando um valor maior. Então a gente fala se tem para falar, não fala se não tem. É normal.

UOL – Quais personagens você considera mais marcantes em sua carreira? Tem favoritos?
Deborah Evelyn –
Tenho um carinho especial pelo primeiro trabalho que fiz, que foi uma minissérie, “Moinhos de Vento”, do Avancini, em 1983. Mas também adorei fazer “Meu Destino É Pecar” [1984], “A Gata Comeu” [1985], “Selva de Pedra” [1986], a Alcmena, de “A Muralha” [2000], a Beatriz, de “Celebridade” [2003], a Judith de “Caras & Bocas” [2009].

UOL – Você é conhecida por dar vida a personagens mais sofisticadas. A que você atribiu isso?
Deborah Evelyn –
Não sei. Talvez o meu tipo físico. Mas também já fiz personagens mais diferentes, como a Alcmena em “A Muralha”, a Zigfrida em “Fera Ferida” e a Madalena em “Desejo Proibido”, que não eram sofisticadas.

UOL – Que balanço você faz da sua carreira, desde a sua estreia na TV, em 1983?
Deborah Evelyn –
Acho que fui muito feliz. Sou muito feliz e privilegiada. Acho que tive muita sorte. Primeiro porque comecei na TV em uma minissérie com o Avancini. [Walter Avancini, diretor]. Era muito novinha. Estava na EAD, da USP, ele viu meu teste e me chamou para fazer. E televisão é uma coisa muito rápida. Você não tem tempo de preparo. Então o fato de eu ter começado numa minissérie e com o Avancini foi muito bom. Porque ele me ensinou a pegar um texto de televisão, que é diferente do texto de teatro e de cinema. Isso é muito raro de acontecer em TV. E nesses anos todos peguei personagens muito bons. Foram poucos os papéis que não fiquei satisfeita de fazer. Foram personagens certos na hora certa. E não dei nenhum passo maior do que a minha perna.

UOL – Qual é a melhor parte da carreira de atriz?
Deborah Evelyn –
É uma profissão que nunca um dia é igual ao outro. Chego aqui, coloco uma roupa que não é minha, falo um texto que foi criado por outra pessoa, brinco do faz de conta, que brincava quando era criança. É uma profissão muito deliciosa nesse sentido. Mas também não é só o glamour que as pessoas pensam. É uma profissão muito dura. Trabalhamos à beça, de manhã, de tarde e de noite. A vida fica muito complicada e muita gente não consegue viver disso.

UOL – A novela está na reta final? Que fim você deseja para a Eunice?
Deborah Evelyn –
Acho que ela tem que se dar mal e pagar por tudo o que fez. Às vezes fico fantasiando, de brincadeira, ela no quartinho do Ismael [Juliano Cazarré] na Lapa, depois de ser expulsa pela família. Imagino ela trabalhando de faxineira durante o dia para trazer dinheiro para casa [risos].

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