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04/11/2011 - 06h30

"Senhora do Destino" se repete como farsa em "Fina Estampa"

MAURICIO STYCER
Crítico do UOL
  • Nazaré Tedesco de Senhora do Destino retribui homenagem de Tereza Cristina

    Nazaré Tedesco de "Senhora do Destino" retribui homenagem de Tereza Cristina

“Como você aprendeu a agir de forma tão violenta?”, pergunta tia Íris (Eva Wilma) à sobrinha, Tereza Cristina (Christiane Torloni), uma das protagonistas de “Fina Estampa”, a novela das 9 da Globo. “Foi numa novela. Tinha uma personagem que fazia isso quase todo dia”, responde a perua, momentos depois de empurrar escada abaixo um mafioso que a chantageava.  

O diálogo ocorre como um reforço didático, para deixar ainda mais explícita a referência a “Senhora do Destino” (2004), verbalizada por Tereza Cristina no instante anterior, quando cometeu o crime: “Obrigada, Nazaré Tedesco”, ela diz, ao ver o corpo do mafioso estatelado no chão.

Como devem se recordar os espectadores daquela novela, a cruel vilã interpretada por Renata Sorrah foi capaz de assassinar o próprio marido, empurrando-o da escada, depois que ele descobriu um terrível segredo sobre ela e decidiu revelá-lo a todos, inclusive à polícia. “Você não vai fazer isso comigo”, diz Nazaré antes de empurrar José Carlos.

Há três questões a se observar na cena exibida na segunda-feira (24/10). Primeiro, que o interesse em torno dela ajudou “Fina Estampa”, mais uma vez, a obter ótimos índices de audiência. Segundo, que o autor da novela, Aguinaldo Silva, é o mesmo de “Senhora do Destino”. E terceiro, que ele recriou em tom de farsa uma cena que na novela anterior teve alto teor dramático.

Enquanto Aguinaldo Silva for capaz de rir se si mesmo, ele mostra uma qualidade importante, que costuma faltar aos autores de novela.

Mauricio Stycer, sobre auto-referências do autor em "Fina Estampa"

Silva tem sido muito hábil em promover “Fina Estampa” tanto com surpresas na trama quanto indo a público defender a novela. Ele parece ter compreendido que o papel de um novelista nos dia de hoje vai além de entregar os capítulos para gravação, incluindo o de relações públicas da própria obra.

A auto-referência não é novidade e expõe, mais uma vez, como os autores de novelas da Globo se têm em alta conta. Para citar apenas dois entre muitos casos recentes, Gilberto Braga entupiu “Insensato Coração” (2010) de menções a “Vale Tudo” (1988) e Silvio de Abreu “ressuscitou” o personagem Jamanta, vivido por Cacá Carvalho em “Torre de Babel” (1998), em “Belíssima” (2005).

O que me agrada nesta “homenagem” de Aguinaldo Silva a si mesmo é o tom de farsa que adotou, como que rindo da própria canastrice de Nazaré Tedesco e da obstinação da heroína Maria do Carmo (Susana Vieira), um espelho para a atual Griselda (Lilia Cabral).

A heroína de “Fina Estampa” é meio que disputada pelo dono do botequim, um português desajeitado, e pelo proprietário do restaurante, um chef fino. O que lembra muito o triângulo vivido por Maria do Carmo, cortejada pelo jornalista sofisticado e o bicheiro sem modos em “Senhora do Destino”.

A surra que Griselda deu em Tereza Cristina também faz lembrar da surra que Maria do Carmo aplicou em Nazaré, assim como, tudo indica, a heroína desta novela vai imitar a anterior e mandar o marido que havia sumido desaparecer mais uma vez da sua frente.

Falta de criatividade? Talvez. Excesso de vaidade? Também. Mas enquanto Aguinaldo Silva for capaz de rir se si mesmo, ele mostra uma qualidade importante, que costuma faltar aos autores de novela.

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