Rapper Emicida critica racismo no Brasil: "Táxi não para, mas viatura para"
Do UOL, em São Paulo
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Reprodução/TV Globo
Rapper Emicida critica racismo no Brasil: "Táxi não para, mas viatura para"
Em tom de desabafo, o rapper Emicida fez críticas contra o racismo no Brasil durante participação no programa "Altas Horas", da TV Globo, já na madrugada deste domingo (20). Para o cantor, a ideia de que o Brasil é uma "democracia racial", não é verdade.
"Eu sinto que o Brasil tem um dívida com a diversidade, mais do que uma vocação, porque ele não exerce essa vocação. O Brasil aplaude a miscigenação quando clareia, quando escurece, condena. Esse é um grande problema, principalmente do negro do exterior que vem para o Brasil, isso fica mais gritante. Essa ideia de democracia racial, que 'o Brasil é o paraíso das três raças', isso não é verdade quando você tem a pele escura", disse ele.
"E a gente tem essa cultura da opressão gritar e o oprimido ficar calado, se sentindo errado. Então, se a garota for estuprada, a culpada será ela; se a pessoa for discriminada e colocada para fora do banco, vão dizer 'ah, não foi assim', 'você estava de boné', 'é porque você estava de moletom, de mochila'. Não. Você sabe que o táxi não para pra você e a viatura [policial], para. Esse é o problema urgente do Brasil", completou o rapper, que foi aplaudido de pé pelo público presente.
Em julho, os xingamentos contra a jornalista da Globo Maria Júlia Coutinho já tinham levantado a discussão sobre o preconceito racial.
Maju, como também é conhecida, sofreu ofensas em uma publicação com a sua imagem na página oficial do "JN" no Facebook. Alguns internautas fizeram piadas e publicaram comentários pejorativos e racistas, como "Só conseguiu emprego no 'Jornal Nacional' por causa das cotas. Preta imunda" ou "Vá fazer as previsões do tempo na senzala".
"Estava todo mundo preocupado. Muita gente imaginou que eu estaria chorando pelos corredores. Mas a verdade é o seguinte, gente. Eu já lido com a questão do preconceito desde que eu me entendo por gente. Claro que eu fico muito indignada, triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo", disse ela durante o "JN". "Eu cresci em uma família muito consciente, os meus pais sempre me orientaram. Acho importante que medidas legais sejam tomadas, para evitar ataques a mim e a outras pessoas", ressaltou.
A jornalista também agradeceu a repercussão e a manifestação de carinho dos colegas e do público. "Também quero manifestar aqui, porque fiquei muito feliz com o carinho, recebi milhares de e-mails, de mensagens. Mas o mais importante é que a militância que faço é com o meu trabalho, sempre bem feito, com muito carinho, com muita dedicação, com muita competência, que é o mais importante. Os preconceituosos ladram, mas a caravana passa", finalizou.
Caso semelhante
Outra jornalista --e também moça do tempo-- que sofreu ataques racistas em uma rede social foi Joyce Ribeiro, do SBT, em novembro do ano passado. Ela foi a uma delegacia, em São Paulo, e denunciou uma série de ofensas racistas que sofreu. O caso foi registrado como injúria racial, segundo informou o "SBT Brasil".
"Não estou aqui me colocando como uma vítima. Eu fui, sim, agredida e estou aqui exercendo o meu direito de buscar a punição da pessoa que me agrediu", disse a jornalista, na ocasião. "As pessoas são diferentes e a riqueza está justamente nisso, nas diferenças. E a gente tem que usar tudo isso a nosso favor", completou.
A profissional recebeu o apoio público e imediato dos colegas de emissora. "O jornalismo do SBT se solidariza com Joyce Ribeiro e vamos acompanhar esse caso até o fim", anunciou Rachel Sheherazade.
Racismo é crime
A pessoa acusada por injúria racial pode ser autuada pelo Art. 140 do Código Penal, com pena de reclusão de um a três anos e multa. "Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Pena - reclusão de um a três anos e multa", diz um trecho do Código Penal.
Site para denúncias
A presidente Dilma Rousseff anunciou em abril o lançamento de um site chamado "Humaniza Redes". A ideia, segundo o governo, é que o portal seja um espaço para denúncias de violação de direitos humanos em casos específicos ocorridos na internet (como racismo, pedofilia, intolerância religiosa, etc).