Hoje roteirista, ex-ator mirim descarta voltar a atuar: "Não tenho talento"

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

  • TV Globo e arquivo pessoal

    Eduardo Albuquerque na época da novela "Felicidade", em 1991, e hoje, aos 30 anos

    Eduardo Albuquerque na época da novela "Felicidade", em 1991, e hoje, aos 30 anos

Quem vai ao cinema para assistir ao filme "A Esperança É a Última que Morre" repara logo nos nomes de Dani Calabresa, Rodrigo Sant'anna e Katiuscia Canoro, mas nem desconfia de que há, ali nos créditos, outro ator conhecido de várias novelas. Se você não ligou o nome à pessoa é porque Eduardo Albuquerque, roteirista do longa ao lado de Patricia Andrade, ainda assinava Eduardo Caldas (por sugestão de Manoel Carlos) quando estrelou folhetins como "Felicidade", "De Corpo e Alma", "Sonho Meu" e "Pátria Minha" na década de 90.

O carioca de 30 anos fez uma participação afetiva no filme, mas diz que não pretende voltar a atuar. "Eu tive uma carreira muito legal como ator, mas acabou. Não tenho talento nem disposição para voltar. Cresci e fiquei uma pessoa mais tímida. Agora eu sou o cara que fica no ar-condicionado, não preciso encarar o campo de guerra que é um set de filmagem. Fiz uma ponta, é uma piadinha, mas nada demais. Foi divertido", conta.

Por enquanto, ele curte ver seu primeiro trabalho na tela grande. "Estou curtindo cada momento. As primeiras sessões foram muito legais, muita gente conseguiu entender. E é tão raro ver críticas citando o roteiro. Tenho lido comentários sobre a ideia original, estou bastante lisonjeado", diz ele, que acompanhou a estreia na reinauguração do Cine Guadalupe, no Rio. "Mas das próximas vezes quero ir sem avisar, para sentir a reação do público", conta.

Acompanhando de perto as filmagens do longa, o roteirista se surpreendeu ao rever a atriz Mary Sheila, sua colega em seu último trabalho como ator, um episódio do "Você Decide", em 2000. "Foi muito por acaso. Apesar de eu ter contribuído na escolha do elenco, só lá eu vi que ela tinha sido escolhida. Peguei autógrafo de todos os atores na capa do roteiro e emoldurei. Ali ela escreveu: 'Foi um prazer te reencontrar'. Foi demais", lembra.

Divulgação
Roteirista de "A Esperança é a Última que Morre", Eduardo Albuquerque faz uma ponta no filme ao lado de Dani Calabresa

Gosto pela escrita

O interesse pela escrita nasceu ainda nos tempos de ator, carreira que iniciou aos 6 anos, na pele do Alvinho de "Felicidade". "Desde pequeno fui exposto aos melhores roteiristas brasileiros. Fiz novela de Manoel Carlos, Gloria Perez, Gilberto Braga, possivelmente todos eles no auge", diz ele, que também trabalhou em "Quatro por Quatro", "Malhação", "Vira-Lata" e "Chiquinha Gonzaga", entre outros. 

Eduardo diz que guarda só boas lembranças desta época, mas afirma que encarava a profissão de forma muito diferente, justamente por conta da pouca idade. "Acho que é por isso que não consigo atuar hoje em dia. Eu brincava de fingir ser outra pessoa. Sabia que era sério, que não podia ficar enrolando, mas era uma brincadeira. Mas, com uns 14 anos, reparei que não podia ir à festinha do colégio porque tinha gravação. Falei com a minha mãe que não estava mais afim. Passou um tempo e não deu saudade, então decidi: 'Não quero mais'", lembra.

Formado em Cinema, hoje ele diz que consegue se manter exclusivamente com seu trabalho de roteirista autônomo. Hoje mantém ainda o site Sala dos Roteiristas, onde comenta sobre o mercado e dá dicas a quem quer se aventurar no ofício. 

"Acabei fazendo outras coisas desde a época da faculdade. É uma carreira difícil, a gente precisa ter um emprego 'pão com ovo'. Fui coordenador da divisão de vídeo do Fluminense até 2013", diz ele, que atualmente trabalha no texto do longa "Orlando, Flórida", que entra em produção no próximo ano, e participou dos primeiros episódios da série "O Grande Gonzalez", produção inédita do Porta dos Fundos para o canal Fox.

Cedoc/TV Globo
Com Tatyane Goulart, colega de elenco em "Felicidade": campeões de ligações na Globo

Mesmo há tanto tempo afastado do vídeo, até hoje Eduardo desperta a curiosidade das pessoas. "Nos lugares aonde vou as pessoas estão acostumadas. Mas sempre tem alguém que diz: 'Eu te conheço de algum lugar. Você não estudou comigo?'. Nunca falo que fiz novela, porque podem achar que estou tirando onda. Mas quando vou pro interior do Rio, as pessoas reconhecem na hora. 'Felicidade' marcou muito. Outro dia me ligaram da Globo querendo fazer uma reportagem, porque eu e a Tatyane Goulart somos os campeões de ligações de pessoas querendo saber da gente. Que doideira, né? Faz mais de 20 anos", diz.

Filho do guitarrista Robertinho de Recife, Eduardo até já gravou um disco, mas diz que não pretende adotar a música como opção para carreira. "O Calvito Leal, diretor do filme, tem uma frase muito boa que diz 'A gente tem que trabalhar com a segunda coisa que mais ama na vida, para não estragar a primeira'. Além de não querer estragar, não tenho talento suficiente. Fiz esse disco e tenho maior orgulho, mas nunca quis carreira musical. É mais uma terapia", diz.

 

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