TV paga não está em crise e há espaço para crescimento, dizem executivos
Beatriz Amendola
Do UOL, em São Paulo
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Ze Carlos Barretta/Folhapress
Manoel Rangel, presidente da Ancine, disse que TV paga não enfrenta retração
A situação difícil da economia brasileira não deve ter um grande impacto negativo no mercado de TV por assinatura – e ainda há espaço para crescimento. Essa análise foi feita por vários representantes do setor nesta quarta-feira (5), durante painéis do congresso da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), em São Paulo.
Presidente da Ancine, Manoel Rangel afirmou que o setor não sofre uma fase com retração. "Acreditamos que poderemos crescer durante a crise, apesar de não vermos os números extraordinários dos números anteriores. Não estamos vivendo num cenário de retração da atividade, e é importante frisar isso".
Fernando Medin, vice-presidente executivo do Discovery na América Latina, disse que não é possível falar em uma situação ruim para o setor – e que tanto público como anunciantes cresceram nos últimos anos. "É difícil dizer que esse é um ano ruim da TV paga, porque não é. Claro que comparado aos últimos anos, parece ruim. Mas estamos vendo que quem paga assiste cada vez mais TV por assinatura. Isso também traz o mercado de anunciantes, que negligenciava a TV paga, vendo-a como um nicho. Hoje eles a veem como um veículo de massa, uma massa qualificada e com poder aquisitivo".
A audiência dos canais por assinatura também vem crescendo, de acordo com Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat. "A audiência no conjunto de canais da TV paga nunca foi tão alta. A gente vem coletivamente batendo recorde em cima de recorde. Todo mundo acompanha o desenvolvimento de novos programas, a gente está trabalhando em um nível cada vez mais forte. O ritmo de venda de assinaturas se mantém praticamente estável, o que atesta a demanda".
O maior desafio para o mercado são os assinantes que não conseguem mais pagar pelo serviço por conta das dificuldades financeiras - em maioria, pertencentes à classe C. "Não é o setor de TV que passa por uma crise. A gente tem uma crise que afeta mais uma classe do que outra. A gente tem que manter o cliente da classe C dentro da base de assinantes", avaliou Rodrigo Marques, diretor executivo de operações da NET. Ele ainda ressaltou que, atualmente, metade do share da operadora vem de canais pagos, e não da TV aberta.
Crescimento possível
Mesmo com o cenário pouco favorável, há espaço para crescimento no mercado, acreditam os executivos. "Nós constatamos que temos muito espaço para crescer quando observamos os segmentos e vemos que ainda não alcançamos os 30% de assinantes de TV paga", explicou Manoel Rangel. De acordo com a Anatel, a TV por assinatura está presente em 27% dos domicílios brasileiros.
Segundo Rodrigo Marques, ainda há uma grande parcela de consumidores que podem ir para a TV paga. "A gente ainda tem 20 milhões de domicílios das classes A, B e C1 que não têm TV por assinatura. A gente vai passar um ou dois anos de mais dificuldade, mas acreditamos que vamos conseguir capturar parte dessas classes".
A própria audiência dos canais pagos também deve crescer, à medida que os novos consumidores se fidelizarem a eles. "TV paga ou aberta é uma questão de hábito", disse Alberto Pecegueiro. "Nos últimos anos, parcela significativa da população brasileira passou a estar disposto ao leque de opções da TV paga. Essa massa não consegue absorver as grades de conteúdo da noite pro dia. Apesar do ritmo de crescimento ter reprimido um pouco, vemos um crescimento de audiência, porque leva tempo para os hábitos serem mudados".
É importante, porém, que os canais tomem cuidado na hora de repassar ao cliente os custos de sua programação, já prejudicados por conta da alta do dólar. "O preço de venda, que o consumidor está disposto a pagar, caiu. A gente tem que decidir se a gente quer que a indústria cresça, ou se a gente vai ficar competindo com custos mais altos. Porque aí o mercado não vai crescer. Não da para a gente achar que vai surgir dinheiro do nada para pagar essa conta. O dólar complicou muito a situação, e o custo de programação não pode complicar mais", afirmou Marques.