I Love Paraisópolis

Tá rindo do quê? Mariana Xavier avisa: "Existe gordinha má, adoraria fazer"

Beatriz Amendola

do UOL, em São Paulo

  • Paulo Herédia/ Divulgação

    Mariana Xavier visitou Paraisópolis e conversou com periguete para viver Claudete

    Mariana Xavier visitou Paraisópolis e conversou com periguete para viver Claudete

A debochada Claudete de "I Love Paraisópolis" não dispensa um bom decotão e não hesita em jogar charme para os homens da comunidade – tendo Raul (André Loddi) como seu último alvo. Mas sua intérprete, Mariana Xavier, não a considera uma periguete. "Brinco que ela tem um leve furor uterino", contou a atriz em entrevista ao UOL. "Na minha concepção, não é só a coisa do desejo, para mim a periguete é aquela que usa a sensualidade para tirar vantagem, que atira para qualquer lado".

Interpretar uma personagem tão fogosa assim, mesmo sendo gordinha, é um sinal de avanço para Mariana, que em 2014 fez um ensaio na praia como repúdio à ditadura da magreza, ao lado das atrizes Cacau Protásio, Simone Gutierrez e Fabiana Karla. "Acho que ainda existe essa coisa de te estereotiparem para um tipo de personagem só, 'ah, tem que ser engraçado'. Mas claro que o fato de ser engraçado com sensualidade já é um ganho pra gente, porque talvez em outros tempos a gordinha fosse sempre a equivocada, a ridicularizada", disse a atriz, ressaltando que há desejo no relacionamento de Claudete e Raul: "Não é uma coisa 'coitadinha, ela está dando em cima do Raul e ele fica fugindo dela'. Existe desejo entre os dois".

Claudete é o segundo papel cômico seguido da atriz em novelas --o anterior foi Ana Rita de "Além do Horizonte" (2013)--, mas Mariana quer acabar com essa história de que o gordinho é sempre o engraçado. "Meu sonho como atriz é que me deem uma personagem séria, uma vilã. Má, má, má, para a gente acabar com esse negócio de que gordinha tem que ser sempre gente boa também. Não, gente, existem gordinhas más, antipáticas. Adoraria fazer uma personagem assim: antipática, sebosa, riquíssima, muito longe da minha realidade. Mas acho que a gente está caminhando para isso", acredita a atriz.

Reprodução/Gshow/ILoveParaisópolis
Mariana Xavier como a Claudete de "I Love Paraisópolis"

A própria popularidade das comédias também faz com que certos atores fiquem associados ao gênero, de acordo com Mariana. "Como existe uma demanda muito grande do público pela comédia, se eles sabem que você funciona naquela área, eles acabam querendo te aproveitar para aquilo. Porque fazer comédia bem é muito mais difícil do que fazer drama".

Outro desejo da atriz é o de conciliar a atuação com trabalhos como apresentadora – que veio após a experiência dela como repórter do "Vídeo Show". "Superpenso em fazer outra temporada como apresentadora, ou no 'Vídeo Show' ou em outro lugar, mas sem jamais abrir mão da minha carreira de atriz. Minha paixão é ser atriz. É o que me motiva desde sempre, comecei a fazer teatro com nove anos de idade. Ser apresentador é muito legal, mas eu canso de mim mesma. Falo 'estou precisando de férias de mim, me dá um personagem'."

Comunidade

Na hora de compor a Claudete de "Paraisópolis", o funk ostentação, surgido na capital paulista, entrou no dia a dia da atriz. "Ficava ouvindo muito aquilo para acostumar com esse sotaque de periferia, comunidade, que é diferente do sotaque dos meus amigos paulistas que são mais riquinhos. Fiquei ouvindo muitas músicas para entender do que eles falavam e como era esse sotaque, que não tem nem o 'R' dos riquinhos nem o 'R' do interior".

A preparação contou também com uma visita à comunidade, que a surpreendeu. "Foi muito legal conhecer. Não parece uma favela, é um bairro, é muito grande mesmo. E é um microcosmo, é uma Babel: tem tudo, tem gente de todo lugar, tem sotaque de todo tipo, tem todos os biotipos", relembrou Mariana, que aproveitou para conhecer uma "periguete assumida" que, assim como sua personagem, é filha de nordestinos: "Foi um barato. Fiquei perguntando se ela trabalhava, como era essa coisa de sair toda noite, como ela arrumava dinheiro para isso, e ela me disse coisas hilárias. 'Amor, periguete só compra o primeiro chope, começou a rebolar, eles começam a chegar'".  

Mas a conversa também fez a atriz entrar em contato com o outro lado de Paraisópolis, ligado ao tráfico e à criminalidade. Ao perguntar para a menina se havia "gatinhos" na comunidade, ela ouviu: "Ter, tem, mas são mais os de fora, porque os bonitinhos já morreram". "Foi muito chocante pra mim, porque eu não vi nada disso em Paraisópolis durante o dia. Eu não fui à noite, não tive oportunidade. Mas de dia é um lugar superalegre. Não passa pela sua cabeça que é um lugar que tem tráfico, que tem criminalidade. Me impressionou ela falar com tanta naturalidade, de quem se acostumou a perder outras pessoas desde muito cedo".

Desde o início da novela, Mariana, que é muito ativa nas redes sociais, está recebendo um retorno positivo do público. "Vários amigos que não são de ver novela dizem que estão viciados, que assistem todo dia. E a personagem, apesar de aparecer pouco, também está sendo superbem recebida. As pessoas se divertem horrores, a galera faz vários memes com as caras e bocas dela, há vários fã-clubes nas redes sociais, acho o maior barato", contou a atriz, que atribuiu o sucesso da trama ao trabalho afinado de toda a equipe.

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