Série "Os Experientes" tira das sombras e dá foco a veteranos
Amanda Serra e Beatriz Amendola
Do UOL, em São Paulo
Um assalto, um grupo de amigos, a reconciliação entre um pai e um filho e a redescoberta da vida: a série "Os Experientes" estreia nesta sexta-feira (10) com quatro histórias que trazem em comum a vivência a partir dos 70 anos e todos os medos e desafios próprios essa fase da vida – além de um time de atores veteranos como Beatriz Segall, Juca de Oliveira, Selma Egrei, Joana Fomm, Othon Bastos e Lima Duarte.
O episódio de estreia é "Assalto", que traz Beatriz Segall como Yolanda, uma mulher que se vê presa em um banco durante um assalto que tem Kléber (João Cortês, o "ruivinho da Vivo") como um dos criminosos. "É uma história bonitinha. Ela é uma velhinha que está no banco para resolver algumas coisas e acaba virando refém de um rapaz, um bandido bem confuso", contou ao UOL Beatriz, 88, que teve a oportunidade de viver uma experiência inédita nas gravações: "Foi totalmente novo, pois nunca vi uma situação assim e a Yolanda não tem nada a ver comigo. Tive que raciocinar e seguir o que estava no texto".
Com direção geral de Fernando Meirelles e seu filho, Quico, a série traz para a linha de frente a questão do envelhecimento, pouco abordada na teledramartugia brasileira. "É uma série que trata do envelhecimento. [Ele] é tratado de uma forma muito realista, muito interessante, e não da forma crepuscular, triste, próxima do túmulo, que caracteriza às vezes a visão do velho. É uma visão natural. Envelhecer é absolutamente natural e comum", afirmou Juca de Oliveira, 80, que interpreta um pai que se reconcilia com o filho.
Protagonistas idosos na TV
Selma Egrei, que vive uma mulher que tenta reconstruir a vida após a morte do marido, ressaltou que produções do tipo ainda são raras e disse esperar que "Os Experientes" ajude a "abrir caminhos" para os protagonistas idosos. Atualmente, ela também, está no ar na novela "Sete Vidas" como Dália, mãe de Lígia (Débora Bloch) e Irene (Malu Galli).
"Esse seriado foi um presente para todos nós. Em geral, se chega a terceira e só sobram personagens secundários -- a avó, a tia, a mãe -- e nem sempre são bem desenvolvidos. No seriado, somos protagonistas, isso é uma exceção, mas gostaria que abrisse caminho no cinema, na televisão. Que enxergassem as pessoas com idade avançada como algo que valesse a pena a acompanhar como personagem, história, que têm muito a ensinar. Espero que abra caminhos".
Beatriz Segall, por outro lado, não se mostrou otimista com uma possível mudança na dramaturgia. "Os velhos não tem vez no Brasil, mas foi uma boa ideia do Fernando, nosso cineasta no Brasil".
Joana Fomm, 74, que dá vida a uma artista, concordou que faltam trabalhos para atores veteranos, mas ressaltou que "é possível fazer sucesso na velhice". "Eu acho que uma das vantagens de ser um ator mais velho é que você fica melhor, mais experiente com a idade. Além disso, acredito que são os mais velhos que seguram os pepinos no final das contas. Foi incrível juntar esses protagonistas mais velhos na série".
Diferentemente das colegas, porém, Oliveira não acredita que haja uma escassez de bons papeis para atores idosos. "Não acho que do ponto de vista da interpretação, os papeis sejam diminutos em relação aos velhos, não é verdade. Há papeis excepcionais para os atores de qualquer idade. Às vezes, principalmente os velhos é que dispõem de papéis tão impressionantes, importantes. Eu, por exemplo, estou fazendo [a peça] 'Rei Lear'. O rei é para um velho, para um idoso, e é uma das personagens mais importantes e mais difíceis do Shakespeare. Então não acho que o fato de nós fazermos uma série se deva ao fato de que 'estamos fazendo algo importante porque os grandes veteranos da interpretação estão trabalhando'".
Quatro histórias
Os "Experientes" conta com quatro episódios: "Atravessadores do Samba", "Folhas de Outono" e "O Primeiro Dia", de autoria de Márcio Alemão Delgado; e "Assalto", de Antônio Prata – todos interligados por um mesmo personagem que aparece em cada uma das tramas.
Aos 66 anos, Selma teve de usar maquiagem para ressaltar suas rugas e aparentar os de 70 de Francisca, protagonista de "Flores de Outono". Ela passou os últimos anos de sua vida cuidando do marido doente e se vê em depressão quando ele morre. "Ela terá uma relação conflituosa com o filho, que é machista e rígido. Isso fará com que ela fique mais deprimida e não saiba que caminho dar para vida. Ela vai ganhar o apoio de uma amiga e de uma vizinha, que se torna uma grande amiga. Elas se apoiam, começam a sair, ir a bailes. Por conta disso, terá um conflito com o filho. Mas a Francisca quer renascer, ter uma vida nova, alegre, feliz. Nesse meio tempo, ela começa a descobrir uns podres do marido e isso faz com ela tenha ainda mais vontade de seguir seu caminho. É uma história leve, com uma certa dose de ironia e humor".
Na trama, ela contracena com Joana, que interpreta Maria Helena. "É uma pessoa alegre e divertida, que gosta de dançar e de rir. Ela é uma pessoa adorável, mas a mãe e o marido não eram muito flor que se cheirasse", definiu a atriz.
Juca de Oliveira dá vida a Napoleão, homem que mantém um relacionamento frio com o filho, interpretado por Dan Stulbach, mas se reconcilia com ele. "Essa relação estranha que se estabelece entre eles, silenciosa, se deve a um fato que aconteceu há muitos, no nascimento desse filho. [O episódio] se chama 'O Primeiro Dia', na minha opinião, porque se trata do primeiro dia de felicidade desse pai desde o nascimento de sue filho. Refere-se à reconciliação entre ambos, ao restabelecimento do afeto, do amor, da alegria, da paz entre pai e filho depois de tantos anos de uma relação difícil e complicada".
"Atravessadores do Samba", por fim, retrata um quarteto de amigos composto pelos músicos sambistas Lucas (Germano Mathias), Oswaldo (Goulart de Andrade), Amaro (Zé Maria) e Mateus (Wilson das Neves). Os quatro passaram a vida trabalhando juntos, até serem abalados pela morte de um deles.
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