HBO retoma Boca do Lixo para contar romance de censor da ditadura com atriz
Renato Damião
Do UOL, no Rio
Um colégio desativado na zona norte do Rio de Janeiro foi o local escolhido pelo diretor geral Claudio Torres para concentrar as gravações da nova série da HBO, "Magnífica 70". O projeto, o primeiro de época do canal a cabo, tem como pano de fundo o prolífico cenário da Boca do Lixo, espécie de polo cinematográfico brasileiro da década de 70 responsável por trazer à tona nomes como Carlos Reichenbach, Alfredo Sternheim e Walter Hugo Khouri.
A reportagem do UOL visitou o set de "Magnífica 70" na última terça-feira (29), onde teve a chance de conhecer alguns cenários como a sala da censura e a produtora Magnífica, que dá título a série. "O projeto nasceu a partir de um roteiro de comédia escrito pelo Toni Marques sobre um censor que vira diretor de pornochanchada no universo da Boca. Pegamos a premissa e tiramos do contexto da comédia e levamos para o drama", explicou Claudio.
O Claudio brinca que a coisa mais pornográfica da série é o Pereio interpretando um general sobre papel de Paulo Cesar Pereio em "Magnífica 70"
Na trama, o censor Vicente é vivido por Marcos Winter. Casado com Isabel (Maria Luísa Mendonça), ele acaba assumindo uma vida dupla após se encantar com a atriz de um filme que ele censurou. Tomado pela culpa, Vicente acaba vendo sua vida transformada quando se depara com os personagens da Boca do Lixo.
"Vicente é um burocrata que foi criado para ser um manso, ele nunca sonhou com cinema, comunismo, nada disso", frisou Winter, que tem passado 12 horas por dia nos estúdios desde que as gravações tiveram início, em junho.
"Magnífica 70", contudo, está longe de ser uma série histórica, segundo seu diretor. "Digo que a rua onde se passa nosso projeto é duas ruas atrás da rua do Triunfo (onde era localizada a Boca). Não estamos procurando recriar fatos históricos", adiantou. No entanto, figuras como a do produtor Antônio Polo Galante e a do diretor José Mojica Martins serão citadas.
"A série é uma grande homenagem ao cinema, o que move a paixão de todos esses personagens é o cinema", sintetizou a produtora executiva Maria Angela de Jesus
"Maior pornografia da série é Paulo Cesar Pereio"
"Magnífica 70" é ambientada na década de 70, auge da ditadura militar no Brasil. Paralelamente o mundo vivia a explosão revolução sexual com o surgimento do movimento hippie. Para Claudio Torres esse cenário foi o grande desencadeador das ideias que se profliferam na Boca do Lixo. O local foi o berço da pornochanchada, estilo cinematográfico conhecido por misturar boas doses de sexo e alguma comédia.
A série possui uma estrutura narrativa muito contemporânea, cheia de ganchos que atiçam o espectador sobre "Magnífica 70"
"O Claudio brinca que a coisa mais pornográfica da série é o [Paulo Cesar] Pereio interpretando um general", adiantou Marcos Winter, aos risos. Pereio vive General Souto, pai de Isabel. Ainda no elenco estão Simone Spoladore como Vera/Dora, uma bandida que se infiltra na Boca para roubar dinheiro da produção, e Adriano Garib como Manolo, um ex-caminhoneiro que se torna produtor de cinema e precisa lidar com um problema de impotência sexual.
"A série possui uma estrutura narrativa muito contemporânea, cheia de ganchos que atiçam o espectador, mesmo sendo nesse cenário histórico", opinou Carolina Jabor, diretora dos treze episódios da então primeira temporada.
A diretora revelou que além dos cenários construídos, haverá gravações externas. A antiga rua do Triunfo será recriada, ainda no Rio, mas a equipe de filmagem também fará tomadas em São Paulo. Ainda não há previsão de estreia.
Sem preocupação com a audiência
"Magnífica 70" é a sétima produção brasileira da HBO (antes tiveram "Mandrake", "Filhos do Carnaval", "Alice", "Mulher de Fases", "O Negócio" e "PSI.") e a primeira de época. Indagada sobre o porquê da demora, Maria Angela de Jesus disse que "era necessário um projeto bom e atraente que valesse os esforços financeiros e criativos".
Desde 2004 investindo no mercado brasileiro, a produtora afirmou que a HBO não está preocupada em números de audiência. "Trabalhamos com conteúdo diferenciado e nosso principal retorno se dá pela comunicação com nossos telespectadores", explicou.
Para Maria Luisa, a produção brasileira vive um momento de êxito. "Todo mundo está caminhando para uma produção séria e de qualidade. O Brasil é um tremendo mercado dentro da América Latina".