"Falta uma atração assim na TV", diz criador de "Castelo Rá-Tim-Bum"
Gisele Alquas
Do UOL, em São Paulo
Quem tem mais de 25 anos certamente se lembra das aventuras do menino Nino (Cássio Scapin) e seus amigos Pedrinho (Luciano Amaral), Biba (Cinthya Raquel) e Zequinha (Freddy Allan) no maravilhoso mundo do "Castelo Rá-Tim-Bum", que completa 20 anos desde a sua estreia.
Os responsáveis pelo programa infantil que marcou uma geração são Flávio de Souza e Cao Hamburger, que também assina a direção geral do programa. Em entrevista ao UOL, Flávio lembrou histórias de bastidores e disse sentir falta de um programa como "Castelo" na TV.
O criador conta que o programa era para ser a continuação do "Rá-Tim-Bum", exibido em 1990. "Mas eu e o Cao começamos a inventar tanta coisa que chegamos à conclusão de que teríamos que criar outro programa. Claro que muitas coisas vieram do 'Ra-Tim-Bum', como misturar comédia e fantasia. Foram vários meses inventando, desenvolvendo, personagens que acabaram se juntando, outros que desistimos. Muitas coisas ficaram de fora", lembrou.
Questionado se ressuscitaria o programa para os tempos de hoje, Flávio respondeu que sim: "Esse programa é tão especial. Juntou muita gente boa. O Cao soube escolher as pessoas". Foram quase dois anos entre o processo de criação e de levar o programa ao ar. "Hoje falta uma atração assim na TV. Ninguém faz mais nada para as crianças, apenas compram desenhos e exibem", lamentou.
Para homenagear o "Castelo Rá-Tim-Bum", fotos, objetos de cena, figurinos dos personagens, depoimentos dos atores, entre outros, estão na exposição em cartaz no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, a partir do dia 16 de julho. "Essa exposição é uma mistura de comemoração e homenagem", disse Flávio, emocionado.
Bastidores
Em entrevista ao UOL, os atores Rosi Campos, a Morgana, e Cássio Scapim, o Nino, lembraram as dificuldades em gravar com os figurinos, além de as gravações exigirem muito esforço físico pela falta de ar-condicionado.
O clima era de total descontração, segundo a equipe. O diretor geral Cao Hamburger lembrou o dia em que Sergio Mamberti, que interpretou o Professor Victor, dormiu em cena. "Nós gravávamos o aniversário da Morgana e ele vinha escondido dentro do bolo. Como era uma cena complicada, com vários atores, demorou muito. E quando chegou a vez de ele sair do bolo, ele estava lá dentro dormindo. Mas aí ele acordou e gravou certinho", contou, aos risos.
Apenas Rosi Campos e Mamberti foram convidados para integrar o elenco. Os outros atores se submeteram a testes. Cao lembrou do dia em que precisou escolher o Professor Abobrinha, interpretado por Pascoal da Conceição. "Eu chamei os melhores atores de São Paulo para os testes e fiquei muito na dúvida. Tinha um melhor que o outro. O Pascoal, que já trabalhava na Cultura, pediu para fazer o teste. Quando ele terminou, eu disse: você resolveu o meu problema. Eu o escolhi na hora, foi surpreendente o jeito que ele fez", contou.
Os atores Luciano Amaral (Pedrinho), Cinthya Raquel (Biba) e Freddy Allan (Zequinha) tiveram tanta sintonia que Cao Hamburger não teve trabalho em escolhê-los para compor os personagens. "Ele funcionam muito bem juntos. O Luciano já vinha de um sucesso anterior, o 'Mundo da Lua', e eu já tinha trabalho com ele na série 'Lucas e Juquinha'. Então tudo facilitou", enfatizou.
O criador e roteirista Flávio de Souza também atuou no "Castelo Rá-Tim-Bum". Ele era o cientista Tíbio, irmão gêmeo de Perônio, interpretado por Henrique Stroeter. "O Cao cismou que eu era parecido com o Perônio e conseguiram fazer com que eu parecesse. Um dia nós estávamos lado a lado esperando para entrar em cena e tinha um monitor no chão. Precisei acenar com a mão para saber quem eu era no monitor de tão igual que estava", contou, aos risos.
Flávio tem no currículo outro programa de sucesso. Ele é o criador e roteirista do seriado "Mundo da Lua", estrelado por Luciano Amaral e exibido pela TV Cultura no início dos anos de 1990. Ele também atuou na atração como o Tio Dudu, irmão mais novo de Rogério, personagem de Antônio Fagundes.
Divertido e trabalhoso
O diretor geral Cao Hamburger se sente orgulhoso em colocar no ar um programa educativo, escasso nos dias de hoje. A atração chegou a alcançar dez pontos de audiência e ser exibido em três horários diferentes, sendo que depois transformou-se em peça de teatro, filme e lançamento dos DVDs do programa.
"É uma emoção e uma honra tão grande de ter feito parte de tudo isso, de ter dirigido uma equipe que fazia programas infantis de qualidade. Tudo ocorreu em uma época em que a TV Cultura investia muito em programas infantis e o 'Castelo' é uma consequência desse investimento", afirmou.
O diretor lembra que ao mesmo tempo em que era divertido, o "Castelo Rá-Tim-Bum" deu trabalho. "Era um programa complexo, muito caro. Eu praticamente morei na TV Cultura durante dois anos. Apesar de parecer algo leve e divertido, foi feito com muita seriedade e competência. Na tela tudo parece fácil, bonito. Foi tudo isso, mas muito trabalhoso", lembrou.
Cao voltará a trabalhar para o público infantil. No final do ano ele estreia a série "Que Monstro Te Mordeu", em parceria com o Sesi e exibida pela TV Cultura.