Geração Brasil

"Geração Brasil" usa "código hacker" no nome; conheça o leet

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução

    Com protagonista hacker, novela usa leet no nome

    Com protagonista hacker, novela usa leet no nome

Com números no lugar de letras, o título de "Geração Brasil" – ou "G3R4Ç4O BR4S1L" –, provocou estranhamento e até teorias conspiratórias de favorecimento a partidos políticos entre alguns telespectadores. Desde a estreia da novela, no último dia 5, internautas comentaram sobre a dificuldade na hora de escrever o nome – e alguns lembraram o Orkut, comparando a escrita com o que se via na rede social.

Em ano de eleição, há quem acredite que é uma mensagem subliminar do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) e do PSB (Partido Socialista Brasileiro), porque os códigos seriam reproduções dos números dos dois partidos (45 e 40).  A Globo nega e explica que, como a novela trata de tecnologia, a grafia do nome é inspirada no alfabeto leet, "uma espécie de linguagem codificada dos hackers", define a CGCom (Central Globo de Comunicação). 

No espírito do ambiente tecnológico em que se passa a trama – que tem como protagonista a engenheira e hacker Manu (Chandelly Braz) –, a grafia também está ligada a esse meio. Ela é um exemplo do leet (também escrito como 1337 ou l33t), essa forma de linguagem usada por gamers e hackers.

Joao Cotta/Divulgação/TV Globo
Chandelly Braz é a hacker Manu em "Geração Brasil"
"O leet não é nada muito sério. É uma fórmula que algumas pessoas usam para se comunicar, substituindo letras por números. Não tem segredo nenhum, nenhuma dificuldade técnica. Basta a pessoa querer escrever", explicou o especialista em segurança digital Fernando Fonseca.

A origem do leet – que é derivado da palavra "elite" – remonta à Idade Média, segundo o professor Routo Terada, especialista em criptografia do Instituto de Matemática e Estatística da USP. "Os nobres da Inglaterra, antigamente, trocavam uma letra por outra, em carta de papel mesmo, para que as pessoas que interceptassem a carta não pudessem entender, criando um código. Modernamente, você pode fazer a mesa coisa com mensagens eletrônicas e fazer uma espécie de brincadeira de trocar o 'S' por $ e alguma letra por algum símbolo que se pareça com ela original. Ou então juntar duas letras que possam parecer a letra original, como o 'VV' substituindo o 'W'".

No meio digital, o leet começou como uma sublinguagem, usada desde antes do aparecimento da internet comercial, nos anos 1990. A técnica de substituir letras por números começou a ser usada com várias funções, inclusive a de identificar a comunidade de hackers. "Antes, era uma coisa para falar 'sou hacker', para se mostrar, para aparecer entre eles", explica Fonseca.  

A linguagem também acumula as funções de criar senhas mais fortes e mais fáceis de lembrar, e burlar alguns filtros. Alguns e-mails, por exemplo, barram mensagens com a palavra "viagra" por identificá-lo como spam. Mas se os "As" forem substituídos por "4", as chances de ele ser barrado são menores. "Às vezes há bloqueios automáticos de alguns tipos de palavras, ou interceptações em que se procuram palavras chaves, então você usa o leet para mascarar a mensagem – burlar uma certa censura, para o bem ou para o mal. Se tem alguém analisando suas mensagens, você consegue passar, dependendo do analisador".

Se o usuário quiser realmente impedir que uma mensagem não seja lida de jeito nenhum, porém, o leet não é a melhor alternativa hoje em dia, alerta o professor Terada. "Os programas espiões podem ter inteligência artificial e começar a aprender essas substituições. E o programa coloca isso na estatística e vai ficando mais esperto. Se é importante, a recomendação é que não se use o leet", avaliou.

Atualmente, o leet já não é mais tão usado quanto há alguns anos, mas seu surgimento na novela pode provocar curiosidade entre o público mais jovem e aumentar seu uso, opina Fonseca. "A garotada gosta de ter um linguajar próprio. E o leet, se você não está familiarizado, leva um tempo para ler. Ele dificulta a leitura a olhos não treinados e o adolescente gosta disso. Quanto mais novo, mais se usa, então acho que pode despertar curiosidade, porque é como se fosse um jeito descolado. E na verdade, nunca passou disso".

Cenas de "Geração Brasil"
Cenas de "Geração Brasil"

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