Sônia Abrão diz que não assiste a TV, odeia "BBB" e não aceita desaforo
Gisele Alquas
Do UOL, em São Paulo
Ela é considerada linha-dura, polêmica e até mesmo fofoqueira. Mas, em entrevista ao UOL, uma Sônia Abrão sorridente concordou em falar sobre qualquer assunto, não fugiu de nenhuma pergunta e não determinou tempo para o fim da entrevista, que durou algumas horas. Na conversa, a reportagem descobriu uma Sônia descontraída, que fala tudo sem titubear e algumas curiosidades: ela não assiste aos atuais programas de TV e passou a odiar o "Big Brother Brasil" depois de cobrir algumas edições do reality.
O bate-papo, marcado para as 17h, ocorreu em sua produtora, na Lapa, zona oeste de São Paulo, após o fim de mais uma dia do programa "A Tarde é Sua", que Sônia, de 54 anos, apresenta desde 2006 na RedeTV!. Ela se despediu do público e, minutos depois, já estava em seu camarim. "Nossa, hoje foi pesado", disse, referindo-se ao conteúdo da atração naquela terça. No palco, Sônia e a sensitiva Márcia Fernandes exploraram uma gravação deixada por MC Daleste, cuja letra o funkeiro parecia pressentir que morreria em breve.
Depois de passar pela editoria de variedades do extinto jornal "Notícias Populares" e por redações como da revista "Contigo!", na Editora Abril, Sônia ingressou no rádio e estreou na televisão no começo dos anos 90.
"Minha primeira emissora foi o SBT. Participava dos programas da Hebe e passei a ser jurada do Troféu Imprensa [que premia artistas e atrações da televisão e da música]. Até que surgiu o convite para o 'Aqui e Agora' [exibido entre 1991 e 1997], que revolucionou o jornalismo brasileiro", contou a apresentadora, que destacou a cobertura da morte da atriz Daniela Perez, em 1992, como uma das mais marcantes de sua carreira na época da atração.
"Não sabia cozinhar, como ter um programa feminino?"
Versátil, Sônia também passou pelo "Domingo Legal", e logo foi convidada a ter um programa só seu. E aconteceu em 2000, com a então recém-nascida RedeTV!.
"Por incrível que pareça, eu não curtia fazer televisão, talvez pela imagem ou vaidade das próprias pessoas de TV que se colocavam e se colocam até hoje num pedestal. Mas recebi o convite e de cara avisei que não sabia cozinhar, não gostava de artesanato e nunca fui ligada em moda. Como apresentar um programa feminino? Competir com Ana Maria Braga e Claudete Troiano sem gostar dessas coisas? Mas me deram carta branca para fazer o que quiser, e o então 'A Casa é Sua' acabou virando jornalismo show, um 'Fantástico' com menos recurso e linguagem mais simples", lembrou.
"Por incrível que pareça, eu não curtia fazer televisão, talvez pela imagem ou vaidade das próprias pessoas de TV que se colocavam e se colocam até hoje num pedestal"
Polêmicas
Acusada de promover sensacionalismo em busca de audiência, Sônia nega e diz que "quem está na chuva é pra se molhar". Um dos episódios mais polêmicos de sua trajetória ocorreu durante o sequestro de Eloá Pimentel, em 2008, quando conversou ao vivo com Lindemberg Alves, então com 22 anos, que mantinha Eloá e amiga dela, Naiara, ambas com 15, reféns na casa da ex-namorada, em Santo André (SP).
"Nossa equipe estava atrás do telefone da casa da Eloá. Ligamos e ele atendeu. Aceitou falar e o repórter Luiz Guerra gravou a matéria. O Lindemberg assistiu ao programa e, quando nossa repórter ligou novamente, disse que queria falar ao vivo porque estava preocupado, não queria que o Brasil pensasse que ele era bandido. Estava apresentando o programa quando o diretor me avisou que o Lindemberg estava na linha. Com minha experiência jornalística, conversei com ele. E falei com a Eloá também. No meio da conversa, ele cortou e desligou. Todo mundo me assistiu, a polícia, a imprensa, o público", lembrou.
"Não esperava essa reação do Datena, a gente era muito amigo. Mas depois ele teve a hombridade de me pedir desculpas ao vivo em seu programa. Hoje está tudo bem"
"Não esperava essa reação do Datena, a gente era muito amigo. Mas depois ele teve a hombridade de me pedir desculpas ao vivo em seu programa. Hoje está tudo bem, adoro o Datena. Na época muita gente falou mal, mas muita gente me elogiou porque foi um furo de reportagem. No julgamento [em 2012], nossa matéria esteve entre os autos, e o Lindemberg chegou a dizer que só pensou em se entregar quando deu entrevista para mim", afirmou.
A fama de explorar tragédias também lhe rendeu uma discussão com uma seguidora em uma rede social. Em abril de 2011, na semana do massacre de Realengo, no Rio, quando um jovem invadiu uma escola e matou 12 crianças, uma internauta escreveu que Sônia deveria estar feliz, pois teria assunto para o programa, provocando a ira da apresentadora.
"No começo, eu brigava de igual para igual no Twitter. Quando li isso, eu a mandei para a puta que pariu mesmo. Fiquei muito brava. Como pode uma imbecil brincar com uma tragédia dessa? Depois disso parei de discutir e entro pouco no Twitter. Lá me aparece muita alma penada", afirmou Sônia, aos risos.
"As pessoas acham que eu adoro uma polêmica. Meu ex-marido falava que tenho vocação para encrenca. Gente, eu sou da paz, mas não pisa no meu calo. Não levo desaforo para casa", avisou a apresentadora, que também foi assunto quando publicou, há dois anos, uma foto de maiô no Instagram. "Nunca imaginaria que uma simples foto iria causar tudo aquilo", lembrou.
Morte de Chorão
Muitas pessoas descobriram que Sônia Abrão era prima do cantor Chorão quando o vocalista da banda Charlie Brown Jr. morreu, em março de 2013, vítima de overdose de drogas. A apresentadora ficou muito abalada e se tornou uma espécie de porta-voz da família. Apegada, Sônia perdeu o primo oito meses após a morte de seu pai.
"A gente nunca é forte para a morte. Meu pai morreu aos 84 anos. É doloroso demais. E, quando o Chorão morreu foi um choque muito, mas muito grande. Meu pai e nem o pai dele iriam aguentar. A gente era muito unido, vi minha tia grávida, eu que escolhi o nome de Alexandre, fui madrinha de seu primeiro casamento. O Chorão era o ídolo do meu filho. Foi muito difícil e ainda é, mas nossa família recebe até hoje um conforto incrível do público. Ele realmente era um ídolo", desabafou.
Curiosidades e vida pessoal
Quem assiste a Sônia Abrão pela TV pode acreditar que ela acompanha tudo que acontece nas telinhas. Mas não é verdade. Sônia confidenciou que atualmente não assiste a nada, nem novelas.
"Novela das seis não estou em casa, odeio 'Além do Horizonte' e 'Em Família' não emplacou meu coração. Até 'BBB', que eu gostava, hoje odeio. Essa última foi a pior edição de todas, não comentamos mais nada no meu programa, não dá", disparou.
Sônia está solteira há 9 anos, desde o fim do casamento de 17 com Jorge Damião, pai de seu único filho, Jorge Fernando, de 21 anos. Ela ressaltou que os dois continuam muito amigos.
"Tive um bom casamento. A gente passa pelo desgaste natural e deu vontade de ficar solteira novamente. Com o tempo, viramos amigos e depois estávamos numa fase de irmãos e aí não dá. Claro que separação é dolorido, tivemos um filho juntos, mas foi tranquilo. Hoje ele é casado novamente e sou muito amiga da mulher dele. Mas antes meu ex-marido teve umas namoradas encardidas que eu e meu filho detestávamos", contou, aos risos.
"Tive um bom casamento. A gente passa pelo desgaste natural e deu vontade de ficar solteira novamente. Com o tempo, viramos amigos e depois estávamos numa fase de irmãos e aí não dá"
A entrevista poderia durar mais algumas horas, porque assunto é o que não falta com a apresentadora. Mas a reportagem foi interrompida por uma pessoa da produção avisando que a equipe a estava aguardando para a reunião de pauta do programa do dia seguinte. Mas Sônia não deixou o camarim sem responder a última pergunta: "O que as pessoas não sabem de você que poderia contar?"
"Olha, me alimento muito mal, como muita batata frita, McDonald's, bebo muita Coca-Cola. Adoro fast-food. E sou sedentária também", revelou. Entre muitas risadas, Sônia encerrou a entrevista contando que sonha em viajar o mundo e apresentar um programa na TV a cabo.