Aos 57 anos, Miguel Falabella nem pensa em descanso. Escrevendo e atuando na nova temporada de "Pé na Cova", o ator e dramaturgo já está a pleno vapor em seu novo projeto, "Sexo & ar nega" ("com R de carioca mesmo"), uma paródia do sucesso "Sex and the City".

Deixando de lado Nova York, e a obsessão por sapatos de Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), Falabella garantiu que o drama das mulheres da cidade alta de Cordovil, subúrbio do Rio, são os mesmos que os das novaiorquinas.

"São mulheres que gostam de transar, de se arrumar, querem arrumar homem. Vivem os mesmos problemas de mulheres de qualquer lugar. A estrutura é a mesma do 'Sex And The City', mas é uma paródia comovente", contou o artista. As quatro amigas - uma camareira, uma cozinheira, uma operária e outra costureira - serão vividas pelas atrizes Karin Hills, Lilian Valesca, Maria Bia e Corina Sabath.

"Todas são cantoras, o seriado tem um tom lúdico, quando elas estão ferradas, elas se veem como as Marvelettes [grupo musical americano da década de 60 formado por mulheres]", explicou o autor. Falabella tem traduzido sucessos da música negra americana, "Take Me In Your Arms And Love Me", de Gladys Knight, virou "Pega Teu Amor e Vaza".

"É necessário ter esse seriado porque a população negra do Brasil pode até ser protagonista, mas é sempre bandido, o pobre, o desgraçado. Elas são pobres, mas são arrumadas, têm moda, elas não são para baixo. São sobreviventes dessa selva como nós", opinou Falabella.

Ainda sem confirmação na grade da Globo, Falabella disse não se importar. "Se for bom eles encaixam e vai ser bom", garantiu. Mas para os fãs de "Pé na Cova", ele afirmou que "Sexo & ar nega" não vem para colocar um ponto final ao bem sucedido seriado que gira em torno de uma funerária.

"Quero intercalar uma série e outra, se for possível. Gostaria de que 'Sexo & ar nega' já estreassse no segundo semestre", torceu.

"Novela é uma prisão"

Cada vez mais ligado aos seriados, Falabella já desistiu de voltar às novelas. Para ele, a telenovela é uma prisão do qual se libertou. "Novela é um massacre de tudo, até do intelecto. Tem uma hora que você precisa cuspir uma palavra, não quero mais fazer, não me interessa", ressaltou ele. 

Falabella revelou que quando escrevia novela recebia duras críticas do colegas de trabalho. "Não sou aquele autor distante, tenho uma proximidade com todo mundo, ninguém liga para o autor para dizer que o texto está uma M****, mas para mim ligavam", relembrou aos risos.

Indagado se voltaria em uma trama exclusivamente como ator, ele desdenhou: "Tenho mais o que fazer, estou quase desencarnando, fazer novela para quê?".

No entanto, o artista viu com bons olhos o beijo gay que foi ao ar no último capítulo de "Amor à Vida". "Tem uma hora que o mundo avança, não dá mais para ficar na Idade Média", opinou.

Sinônimo de sucesso, sua vaidade está relacionada sempre ao trabalho (mesmo que recentemente tenha se submetido a uma dieta e enxugado seis quilos). "A maturidade é muito legal. A minha grande paixão, que descobri na maturidade, é gente. Eu gosto de gente, não gosto de ver gente mal. Não posso ver meus amigos sem trabalho, gente talentosa que 'talvez não esteja no padrão'. Eu meto pé na porta e pergunto: 'Que padrão?' Padrão é vida", finalizou.