Manoel Carlos diz que escrever "Em Família" ajuda a superar morte do filho
Do UOL, no Rio
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Claudio Andrade/Foto Rio News
Giovanna Antonelli dá beijo no rosto do autor Manoel Carlos na apresentação de "Em Família"
Famoso por fazer de suas novelas uma espécie de crônica da sociedade brasileira - em especial, a carioca - Manoel Carlos se prepara para estrear na próxima semana "Em Família", nova trama das 21h da Globo. Em entrevista às "Páginas Amarelas" da revista "Veja", Maneco (como é conhecido), contou que o trabalho tem servido para superar a dor da morte do filho e que aos 80 anos poderia se dar o luxo de não trabalhar, mas o faz por opção.
"Algumas pessoas podem pensar que estou sendo forçado a fazer essa novela. Não. Depois da morte do Maneco, meu filho, fui chamado pelo Manoel Martins. Ele disse que eu poderia ter feito o que quisesse: trabalhar, viajar ou ficar em casa sem fazer nada. Respondi que queria fazer uma novela o mais rápido possível, só um trabalho tão pesado será capaz de afastar um pouco meu pensamento dessa perda", explicou o dramaturgo.
Maneco, o filho, faleceu em 2012 vítima de uma ataque cardíaco, antes o escritor já havia precisado lidar com a morte do filho Ricardo, nos anos 80, em decorrência do vírus da Aids. "Se fosse hoje, com os novos coquetéis de drogas, ele estaria vivo", opinou.
Indagado sobre os atrasos na hora de entregar os roteiros, Maneco afirmou que sempre foi assim e que os atores com os piores papéis são quem reclama. "Sou do tempo em que se fazia teledramaturgia ao vivo, e nunca gostei de grandes prazos para escrever. Até me coloquei à disposição para não fazer novelas, se a Globo não aceitasse meu jeito", revelou.
Já em relação ao ritmos de suas tramas, Maneco garantiu que não tem interesse de imitir, por exemplo, a agilidade criada por João Emanuel Carneiro em "Avenida Brasil". "Todo mundo quer aquele ritmo instantâneo [ de "Avenida Brasil"], mas quem fez isso foi o João Emanuel, um autor jovem. Isso não quer dizer que eu, aos 80 anos, deva sair por aí imitando um garoto. Não vou pagar o mico de macaqueá-lo", ressaltou.
Globo pediu para manifestações no Leblon ficarem de fora
Falar em novela de Maneco é falar de Leblon, bairro da zona sul do Globo que se tornou mítico por causa do autor. Em 2013, o Leblon virou manchete em razão das manifestações feitas contra o governador Sérgio Cabral, morador do bairro e vizinho do autor. "Fiquei orgulhoso de os jovens escolherem o Leblon como palco de seus protestos. Aquele vandalismo, claro que não aprovo", pontou.
Maneco disse ainda que pensou em colocar as manifestações no enredo de "Em Família", mas precisou acatar um pedido da emissora para que o tema ficasse de fora. "Não posso tocar nisso em ano de eleição. As manifestações de junho passado no Leblon marcariam a passagem do tempo. Mas aí a Globo me pediu para mudar. Eles não deixam e ponto", afirmou.
Conhecido por abordar temas de repercussão social, Maneco deixou no ar a chance de um beijo gay protagonizado por Giovanna Antonelli e Tainá Muller, que viverão um casal de lésbica. "Nada contra o beijo, mas não vejo importância nisso. Não sei se é preciso [...] Estou escrevendo uma história de muito amor para elas. Se achar que a coisa pede, talvez faça uma cena de beijo. Se a Globo deixará ir ao ar, eu não sei".