Conheça as histórias reais de duas "bruxas" de "American Horror Story"

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação/Fox

    Kathy Bates e Angela Bassett interpretam respectivamente Madame Lalaurie Marie Laveau, personagens reais que foram transformadas em "bruxas" na minissérie "American Horror Story - Coven"

    Kathy Bates e Angela Bassett interpretam respectivamente Madame Lalaurie Marie Laveau, personagens reais que foram transformadas em "bruxas" na minissérie "American Horror Story - Coven"

Há duas "bruxas" em "American Horror Story - Coven" que assombram a cidade de Nova Orleans até os dias de hoje. A casa onde viveu madame Delphine McCarty Lalaurie, uma influente dama da sociedade no início do século 19, e a sepultura de Marie Laveau, uma das maiores pregadoras da religião vodu, fazem parte dos roteiros turísticos da cidade que serve de cenário para a série de terror que, no Brasil, vai ao ar pela Fox todas as terças às 23h15.

O que tornou essas duas personagens notórias, no entanto, são as histórias fantásticas e aterrorizantes que cercam suas vidas e também suas mortes. Madame Lalaurie, que na série é interpretada por Kathy Bates, teve de sair fugida da cidade quando em 1834 um incêndio destruíra parte de sua casa e revelara um sinistro sótão onde ela praticava as maiores barbaridades contra seus escravos.

Retrato de Madame Lalaurie

Reprodução
Os escravos encontrados apresentavam mutilações de todos os tipos. Por não fazer curativos em suas vítimas, moscas puseram ovos na carne viva e, quando os escravos foram encontrados, estavam sendo devorados pelas larvas.

Relato de Armand Saillard, cônsul francês em Nova Orleans sobre as toturas de madame Lalaurie

"As histórias de tortura são de fato reais. Ela deixava seus escravos passando fome, espancava-os e os mantinha presos em correntes. Sete homens e mulheres foram salvos do fogo naquele dia. As imagens de 'American Horror Story' são exageradas, mas o que ela fez foi terrível", contou em entrevista ao UOL a autora Carolyn Long,  que escreveu um livro sobre Lalaurie e outro sobre Marie Laveau e que também prestou consultoria aos autores da série.

Por terrível, Long descreve trechos do noticiário publicado no dia do incêndio que relatam a dama como "o demônio em forma de mulher" e "uma alma em fúria fugida do inferno". Os escravos encontrados apresentavam mutilações de todos os tipos, "cabeças e membros deslocados, pernas dilaceradas, corpos banhados de sangue, com cicatrizes dos pés à cabeça e riscados de chicotes e instrumentos cortantes". Long conta ainda que, por não fazer curativos em suas vítimas, "moscas puseram ovos na carne viva e, quando os escravos foram encontrados, estavam sendo devorados pelas larvas".

Cerca de 2.000 pessoas visitaram os escravos após sua libertação para verem as condições horríveis em que estavam, o que gerou revolta na população da cidade. A casa de Lalaurie foi cercada e parcialmente destruída. Devido a sua influência na sociedade local, no entanto, ela e a família conseguiram fugir para Paris. Não se tem certeza nem da causa nem da data de sua morte até hoje.

Local de peregrinação

A história real de Marie Laveau, interpretada por Angela Bassett e retratada na série como uma poderosa feiticeira que amaldiçoa Lalaurie, é bem menos pesada. Ela era uma pregadora da religião vodu, que, similarmente ao candomblé, mistura tradições africanas com tradições católicas e invoca espíritos durante os cultos. "Vodu não tem nada a ver com adoração ao diabo, tampouco tem a ver com espetar bonecos com agulhas ou orgias", diz a escritora Carolyn Long.

Ela também conta que Marie Laveau nunca fora perseguida, era uma mulher livre, mestiça, neta de dois avós brancos e seguida por negros e por brancos. Viveu 99 anos e, mesmo depois de morta, muitas pessoas afirmaram tê-la visto andando por Nova Orleans.

Retrato de Marie Laveau

Reprodução
Hoje, a tumba de Marie Laveau no cemitério St. Louis atrai milhares de devotos do vodu que fazem oferendas e que buscam milagres. Muitas das pessoas, a maioria turistas, têm o hábito de desenhar três letras 'X' na lápide, cujo intuito é fazer contato com seu espírito e ter seu pedido realizado

Carolyn Long, autora e consultora da série "American Horror Story"

"Hoje, a tumba de Marie Laveau no cemitério St. Louis atrai milhares de devotos do vodu que fazem oferendas e que buscam milagres. Muitas das pessoas, a maioria turistas, têm o hábito de desenhar três letras 'X' na lápide, cujo intuito é fazer contato com seu espírito e ter seu pedido realizado", conta a autora.

Spoiler

A terceira temporada de "American Horror Story" começa contando a história de vingança que, na ficção, une madame Lalaurie e Marie Laveau. Na trama, a torturadora usava o sangue e outros órgãos de seus escravos como cosméticos. Uma de suas vítimas era o amante de Laveau, que ao descobrir o destino de seu amado vai até a mansão e oferece à carrasca uma fórmula de rejuvenescimento.  Ao beber o líquido, no entanto, Lalaurie se torna imortal e é enterrada viva pela mestre vodu, não sem antes presenciar os corpos de seu marido e filhas pendurados nos beirais de sua residência.

180 anos depois, na Nova Orleans de hoje, a bruxa suprema Fiona (Jessica Lange), também obcecada com a juventude que se lhe esvai por entre as rugas, desenterra Lalaurie e a usa como isca para conseguir a fórmula criada por Marie Laveau. No episódio que vai ao ar nesta terça (29), uma cena hilária mostra a escravocrata chocada ao ver um discurso do presidente Obama na TV.

"Eu nunca tinha ouvido falar de 'American Horror Story' até receber um e-mail de uma loja que vende meus livros dizendo que alguém da produção queria falar comigo. No começo fiquei preocupada de que fossem distorcer a história, mas quando eu me dei conta de que tudo ali é pura fantasia, relaxei. Agora estou adorando a série", encerra a escritora.

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