Silvio de Abreu conta que Globo esticava "Rainha da Sucata" para "Pantanal" perder anunciantes
James Cimino
Do UOL, em São Paulo
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Divulgação
Regina Duarte como Maria do Carmo em cena da novela "Rainha da Sucata" (1990)
O autor Silvio de Abreu contou em entrevista exclusiva que sua novela "Rainha da Sucata", exibida originalmente em 1990 e atualmente em reprise pelo canal pago "Viva", foi a responsável por aumentar o tamanho das novelas para os moldes atuais. A conversa aconteceu logo após sua participação no Bate-Papo do UOL em que falou do livro "Crimes no Horário Nobre", escrito por Rafael Scire e que analisa suas novelas.
Segundo ele, os capítulos da trama que tinha Regina Duarte e Glória Menezes como protagonistas eram esticados para diminuir o impacto de "Pantanal" na audiência dos programas que eram exibidos depois de "Rainha da Sucata". A novela de Benedito Ruy Barbosa, exibida no mesmo ano pela extinta TV Manchete, que chegou a dar média geral no Ibope de 22 pontos.
Como a Manchete nunca começava 'Pantanal' antes do fim de 'Rainha da Sucata', a gente esticava o capítulo para que a novela deles começasse cada vez mais tarde e perdesse a publicidade do horário nobre. Foi com 'Rainha da Sucata' que as novelas ficaram desse tamanho que são hoje.
"Como a Manchete nunca começava 'Pantanal' antes do fim de 'Rainha da Sucata', a gente esticava o capítulo para que a novela deles começasse cada vez mais tarde e perdesse a publicidade do horário nobre. Foi com 'Rainha da Sucata' que as novelas ficaram desse tamanho que são hoje. Antes o capítulo de uma novela das 20h tinha, sem os intervalos, pouco mais de 30 minutos de duração e começavam às 20h30 e terminavam pontualmente às 21h30", disse o autor.
Outra mudança que "Pantanal" causou foi o fim do "a seguir cenas do próximo capítulo". Segundo o site Teledramaturgia, a Globo decidiu acabar com essa parte porque durante o intervalo entre o final do capítulo e a rápida edição que antecipava trechos das cenas que seriam apresentadas no dia seguinte, o público mudava de canal para a Manchete e não voltava para a Globo.
Apesar dessa guerra pela audiência, Abreu falou ainda que o impacto de "Pantanal" na grade da Globo foi significativo. "Programas como o 'TV Pirata', por exemplo, foram extintos. E a minha novela foi injustiçada. Criticavam muito. Diziam que era horrível. O que não é verdade. A verdade é que as duas novelas eram muito boas."
"Pantanal" e "Rainha da Sucata" nunca chegaram a concorrer diretamente. Na época, o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, deu uma declaração à revista "Veja" desdenhando do sucesso da novela da Manchete: "A novela não é essa estrela que a Manchete diz ter acendido. Ela não é um sucesso absoluto coisa nenhuma, pois para conseguir sucesso real seria preciso colocar no ar uma novela no mesmo horário das da Globo, e vencê-las."
Mesmo assim, a trama de Silvio de Abreu demorou a cair no gosto do público. Daniel Filho, que interpretava o vilão Renato Maia em "Rainha da Sucata" menciona as dificuldades em seu livro "O Circo Eletrônico": "Quando a novela abre com muitos personagens, confunde o espectador. 'Rainha da Sucata' é um exemplo disso. O elevado número de personagens e a mistura de gêneros tumultuaram o início da novela. O público reagiu, no início, com audiência abaixo do desejável. Detectado o problema, Silvio definiu bem os núcleos. Dividiu o humor, o drama e o romance, conseguindo atingir níveis excelentes nos números de audiência. Agora ela é lembrada como bem sucedida, mas nós sabemos do sufoco que foi no começo."
Graças às extravagâncias de dona Armênia (Aracy Balabanian) e Maria do Carmo (Regina Duarte) e à prepotente Laurinha Figueiroa (Glória Menezes), "Rainha da Sucata" foi a segunda maior audiência da Globo no horário das 20h nos anos 1990, fechando com 61 pontos de média no Ibope. Atualmente, cada ponto no Ibope equivale a 62 mil domicílios na Grande São Paulo.
VEJA A ÍNTEGRA DO BATE PAPO COM SILVIO DE ABREU
Remake
Silvio de Abreu contou ainda que está preparando o remake de "Rainha da Sucata" que será exibido no México e que deve estrear entre março e abril de 2014. "La Reina de la Chatarra" é a primeira parceiria entre a Globo e a TV Azteca e contará a história de Maria do Carmo e Laurinha sem alterações na trama.
"Tem que adaptar algumas coisas. Os preconceitos lá são diferentes, mas a trama da rica tradicional falida contra a rica emergente é igual lá e aqui."
Para saber mais curiosidades sobre "Rainha da Sucata" e "Pantanal", visite o site Teledramaturgia escrito pelo blogueiro do UOL Nilson Xavier.