Delegada que inspirou Helô, de "Salve Jorge", diz que gosta de "homem com H"

Renato Damião

Do UOL, no Rio

Se em "Salve Jorge" Helô (Giovanna Antonelli) vive às turras com o ex-marido, Stênio (Alexandre Nero), o mesmo não se pode dizer de Monique Vidal, a delegada que serviu de inspiração para Glória Perez criar a personagem. Separada há quase dois anos do lutador Gustavo Ximu, Monique garantiu que se dá muito bem com o ex. "Sempre nos falamos, ele me sacaneia, atende meus telefonemas com: 'Fala, delegada'", contou a policial.

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    Giovanna Antonelli e Monique Vidal, a delegada que inspirou Glória Perez a criar a Helô de "Salve Jorge"

Monique recebeu a reportagem do UOL na delegacia de polícia do Catete, da qual é titular, na zona sul do Rio. Com os longos cabelos loiros soltos, vestindo uma camisa azul da grife Daslu ("Ganhei de presente") e sapatos estilizados, ela soltou o verbo desde a pacificação das favelas cariocas ("A UPP não é a fórmula mágica da paz") até sobre a dificuldade de encontrar um namorado. "Gosto de homem com H, homem que fala grosso, que tem atitude. Dinheiro não é o mais importante, mas não pode ser um encostado. Está difícil de encontrar, por isso estou sem", disse Monique aos risos.  

Aos 44 anos e mãe de Laura, de 13, e Gustavo, de 7, a "delegata" (título que recebeu do escritor Nelson Motta) só se compara à Helô quando se trata do "temperamento explosivo e dos problemas em casa". "Todas as delegadas de polícia se veem um pouco na Helô. Eu berro, mas sou engraçada também e isso acaba criando semelhanças", opinou Monique. A primeira vez que ela teve contato com Glória Perez foi para ajudar Rita Guedes a compor uma delegada para "Caminhos das Índias". Quando começou a trabalhar em "Salve Jorge", a autora a procurou mais uma vez.

"Glória conversa comigo para aprender o linguajar e saber detalhes técnicos, isso ajuda a dar maior veracidade as situações. Depois estive com a Giovanna [Antonelli] duas vezes e com a pesquisadora da novela", explicou Monique. Dentre suas "ajudas" está a prisão de Pepeu (Ivan Mendes) por quebrar um orelhão. "Ela [Glória] precisava que a Helô prendesse o genro, falei que dano a patrimônio público dá cadeia", relembrou.

Para Monique, a figura de uma delegada "bonita, bem vestida e honesta" ajuda outras mulheres a seguirem a carreira. "Os delegados de novela geralmente eram aqueles homens de camisa aberta, perna a mesa, ordinário, e as delegadas masculinizadas, isso mudou e é bacana. É um estímulo para as que estão começando agora". Quando o assunto são as vestimentas de Helô, Monique garantiu que não é tão vaidosa, mas "exagerada". "Adoro pulseiras, sapatos, mas não sou de ir ao salão, graças a Deus tenho um cabelo bonito e não preciso fazer muita coisa nele".

"Não tive 15 minutos de fama"

Nascida e criada em Ipanema, zona sul do Rio, Monique chegou a estudar História antes de fazer faculdade de Direito. O desejo de fazer parte da polícia, ela acredita, que vem da infância. "Adorava qualquer filme que a mulher fosse heroína, e adorava o seriado 'As Panteras'", contou. Com 15 anos de profissão, a loira acredita que seu grande feito é ter se mantido como exemplo.

André Durão/UOL
Tem mulher que diz que não quer usar arma, então vai ser manicure, vai trabalhar numa loja, se é policial tem que usar arma

sobre usar arma

"Não tive 15 minutos de fama, tenho uma carreira de 15 anos e até hoje sou procurada para falar tanto de casos policiais quanto da profissão. As pessoas ainda se interessam pelo o que eu faço e falo. Isso é bacana", frisou. Para ganhar respeito, Monique muitas vezes precisou aumentar a voz, mas afirmou que é amiga dos policiais e que não se restringe hierarquias. Medo, ela só tem de "bobeiras", como o escuro, e o lado durona fica de lado quando assiste a melodramas.

Para as mulheres que querem seguir a profissão, ela deixou uma dica: "O problema da mulher é que se que ela quer fazer o mesmo trabalho que o homem faz ela precisa que saber que existe o filho, a TPM, e tudo isso não pode interferir no trabalho". Outra dica é "não ter medo de arma", Monique carrega uma pistola calibre 40. "Tem mulher que diz que não quer usar arma, então vai ser manicure, vai trabalhar numa loja, se é policial tem que usar arma", sintetizou.

Indagada sobre a atual situação da polícia civil no Rio, Monique foi otimista. "Teve mudanças boas, uma delas é a Delegacia Legal, lembro que quando estava grávida dormia em um sofá com 120 detentos na carceragem, hoje polícia civil não é mais babá de preso, mas feita para investigar". A sensibilidade, segundo ela, aparece em casos envolvendo idosos e crianças ("Me deixa triste, irritada"), fora isso, Monique tem a consciência que faz seu papel. "Ouço muito 'você destruiu minha vida', mas não fui eu quem acabou com a vida da pessoa, ela que fez coisa errada".

Quanto a fama de "marrenta", a delegada admitiu não ser do tipo delicada. "Minha mãe sempre dizia que mulher para casar tinha que ser delicada e falar baixo, tudo o que não sou. Não tenho paciência para assunto de 'mulherzinha'", contou. Para os próximos 15 anos de profissão, Monique espera "que a coluna aguente". "Por isso não tenho usado a pistola na cintura", finalizou.

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