Guerra dos Sexos

Frô de "Guerra dos Sexos" diz que se inspirou nas mulheres "que se acham da Globo"

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

Em clima de despedida e nostalgia, a atriz Marianna Armellini, a Frô do remake "Guerras dos Sexos", conversou com a reportagem do UOL no último domingo (21), durante um café da manhã em São Paulo, e falou sobre suas inspirações para compor sua primeira personagem na TV e sobre o humor feminino no Brasil.

Longe do estereótipo de uma mulher "perfeita", Marianna falou com uma amiga, buscou inspirações no Projac (central de produção da Globo) e na dança waking (mistura de vogue e disco, inspirada no funk dos americanos, na dança de rua). Foi por meio desses elementos e de sua pesquisa pessoal sobre figurino que a atriz transformou a atendente que não é bonita, mas pensa que é, em uma mulher desejada.

  • Leonardo Soares/UOL

    "Mulheres bonitas não se impõem muito, entram em um local e são vistas. Já eu e as que não são tão bonitas precisamos fazer micagens", diz Marianna sobre suas inspirações para compor a Frô

"Mulheres bonitas não se impõem muito, entram em um local e são vistas. Já eu e as que não são tão bonitas precisamos fazer micagens. Tentei fazer da Frô uma mulher segura, que atrai atenção naturalmente. Quando entrei na Globo observei as mulheres bonitas, no meu elenco tem bastante. E pensei: 'Ah, é assim que é uma mulher que se acha. Que se acha porque pode. Não tenho ideia de como é isso".

Na primeira versão da novela de Silvio de Abreu, o papel foi interpretado pela atriz Cristina Pereira. "A Frô é popular. Todas as besteiras estão na boca dela. Essa coisa dela se achar a mulher mais bonita é engraçado. Tenho liberdade para criar. Além do 'plus' dos irmãos gatos (Eriberto Leão e Thiago Rodrigues) dela né? O texto vem pronto, só continuei com o caminho que a Cristina construiu", disse Marianna, que foi convidada pelo autor da trama por conta de um vídeo "caseiro" na internet que ela gravou com o humorista Rafinha [Bastos].

Ao que tudo indica o final de Frô será ao lado de Kiko (Johnny Massaro) no folhetim das sete. "Gravei uma cena muito bonita. Bem diferente do que ela costuma fazer", contou Marianna, se referindo aos comentários maldosos da personagem.

"O teatro foi fundamental para formação do meu caráter"

Atualmente com 35 anos, Marianna não se importa de não ser convidada para ações publicitárias, para convites de escolas de samba e diz que já se conformou em não interpretar mocinhas na TV. "As pessoas sofrem muito querendo ser o que não são, tentando se enquadrar em padrões que não existem. Na adolescência sofri muito, pois queria ser a Ana Paula Arósio, a Luana Piovanni. Queria ter seios, franja...", relembra.

As pessoas sofrem muito querendo ser o que não são, tentando se enquadrar em padrões que não existem. Na adolescência sofri muito, pois queria ser a Ana Paula Arósio, a Luana Piovanni. Queria ter seios, franja...

Conhecida pelos humorísticos "As Olívias" e "É tudo Improviso", Marianna sempre achou "incrível" o poder de fazer o outro rir. "Tive que ser uma pessoa engraçada, porque nunca fui a mais inteligente e a mais gatinha. Tirava sarro de mim antes de alguém fazer isso. Nunca tive medo de ser ridícula".

Ainda estudante de publicidade e propaganda na ESPM, Marianna ingressou no grupo de teatro "Tangerina" criado por Dan Stulbach e foi incentivada pelo ator a ingressar no curso de cênicas da Escola de Arte Dramática da USP. "O Dan [Stulbach] foi fundamental. Até hoje ligo para ele para pedir conselhos, dicas. Essa semana mesmo estava angustiada por conta do trabalho e nos falamos. O teatro foi fundamental para formação do meu caráter como ser humano, como profissional".

"O mundo está virando um bando de universitários"

  • Leonardo Soares/UOL

    "Temos pouco humor feminino porque as mulheres são criadas para serem certinhas. As mulheres estão mal representadas no mundo. E o humor tem uma função social, de colocar a mulher no seu ridículo para que ela tenha igualdade com um homem".

Há oito anos no grupo de comédia "As Olívias", criado em 2005, dentro da escola de artes cênicas da USP, Marianna teve a internet como uma aliada em 2010, quando a segunda temporada da séria foi vista por 2,5 milhões de expectadores no YouTube. Em 2011, a série tornou-se um programa semanal no canal Multishow.

Sabendo das limitações do humor, a atriz acredita que o quadro "Porta dos Fundos", exibido na internet, não deve migrar para televisão. "O que eles fazem é genial e não poderiam fazer isso na TV brasileira, perderiam. Eles não podem ir de jeito nenhum para TV", referindo-se a ausência de palavrões e sátiras sobre religião e liberdade sexual da mulher.

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    Marianna Armellini em cena de "Guerra dos Sexos"

Questionada se seu grupo feminino perdeu migrando para TV, Marianna explica que "As Olívias" ganharam muito mais, mas que deixaram de criar novas piadas. "Perdemos. A gente se coloca limites. Senti-me livre dentro das limitações". 

Marianna além de achar surpreendente o fato de alguém fazer o outro rir, defende o humor como uma representação das mulheres e acredita que a comédia liberta as pessoas. "Tirar sarro de você não acaba com as propagandas lindas do Rio de Janeiro".

"Temos pouco humor feminino porque as mulheres são criadas para serem certinhas. As mulheres estão mal representadas no mundo. E o humor tem uma função social, de colocar a mulher no seu ridículo para que ela tenha igualdade com um homem".

Meu projeto é continuar atuando. Tenho orgulho de ser chamada de comediante, mas prefiro não ser rotulada e explorar novos caminhos. Tenho as atrizes Heloísa Perissé e Maria Clara Gueiros como inspirações

afirma Marianna Armellini

Defensora da cultura como arma para destruir preconceitos, a humorista não sabe definir os paradigmas do politicamente correto e incorreto. "Incorreto para mim é corrupção. Ofendo-me com mulheres seminuas na TV, com essa necessidade de acharem que isso ainda é fundamental. A gente está rindo menos e confundindo o politicamente correto com ofensas. O mundo está virando um bando de universitários", disse Marianna se referindo à forma que estudantes se denominam donos da razão.

Sobre a migração dos comediantes para formatos mais compactos da TV, Marianna acredita que faz parte da evolução do ator, como qualquer outro profissional que precisa se testar. "A Tata [Werneck], Marcelo [Adnet], Dani [Calabresa] e Rafinha querem explorar seus outros lados, não se acomodar em uma fórmula que sabem que dá certo. Foram experimentar novos espaços, direções, artistas de verdade precisam disso. Ninguém deixará os palcos", afirmou a atriz, fazendo referência à própria carreira.

Sem contrato assinado com a Rede Globo para uma nova produção, Marianna não se sente pressionada e tem como meta voltar para os palcos com "As Olívias". "Meu projeto é continuar atuando. Tenho orgulho de ser chamada de comediante, mas prefiro não ser rotulada e explorar novos caminhos. Tenho as atrizes Heloísa Perissé e Maria Clara Gueiros como inspirações".

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