"Falta gente interessante na TV", diz Astrid Fontenelle na reestreia do "Saia Justa"

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

  • Marlene Bergamo/Folhapress

    Barbara Gancia, Monica Martelli, Maria Ribeiro e Astrid Fontenelle comandam a nova temporada de "Saia Justa"

    Barbara Gancia, Monica Martelli, Maria Ribeiro e Astrid Fontenelle comandam a nova temporada de "Saia Justa"

Astrid Fontenelle volta, nesta quarta-feira (6), a um formato que a consagrou ainda na MTV: o programa de debate. Prestes a estrear na 12ª temporada do "Saia Justa", no canal GNT, ao lado da jornalista Barbara Gancia e das atrizes Maria Ribeiro e Monica Martelli, a apresentadora diz que está feliz, mas confessa ter frio na barriga.

"Será que vou dar contar? Vou ter que voltar à terapia", ela brinca, em entrevista ao UOL, enquanto caminhava a um estúdio na Barra Funda, em São Paulo, para a gravação de mais um piloto do programa. "Mas que bom que, aos 50 anos, posso ter medo. Medo é respeito", interpreta.

Astrid, no entanto, revela que viveu durante meses o dilema entre aceitar ou não entrar para o "Saia Justa". O convite é antigo e chegou na mesma época em que ela recebeu o diagnóstico de lúpus, doença autoimune. No final, ela percebeu que o trabalho (alvo constante de declarações de amor) só poderia ajudar no tratamento.

"Eu amo fazer televisão. Gosto de fazer esse tipo de programa, mas gosto mesmo é de fazer tudo na televisão. O que me consagrou foi minha espontaneidade, que é uma característica do povo brasileiro. Temos essa coisa escrachada", explica.

A estreia de hoje, porém, é em um canal pago. Seria um sinal de que não há interesse do grande público no gênero? "Não acho. O que falta é gente interessante na TV".

Leia a entrevista com a apresentadora:

UOL - Após o "Chegadas e Partidas", você volta a um gênero que a consagrou desde a época da MTV, que é o programa de debate. Sentia falta desse estilo?
Astrid Fontenelle - Eu ando com crise de identidade. Será que vou dar contar? Vou ter que voltar pra terapia [risos]. Preciso de um choque para cair no real. Eu amo fazer televisão. Gosto de fazer esse tipo de programa, mas gosto de fazer tudo na televisão, e não aquela coisa de bancada apresentando um jornal de forma rígida. Afinal, eu não perco a piada. Eu perco o amigo, mas não a piada. Com o tempo adquiri delicadeza para não machucar as pessoas. O que me consagrou foi minha espontaneidade, que é uma característica do povo brasileiro. Temos essa coisa escrachada na gente. Pode ser um grande defeito, mas é assim que somos.

Acha então que vai dar uma cara "Astrid" ao "Saia Justa"?
Não é bem assim. Venho em um crescente de maturidade, vim do [programa] "Happy Hour", tive que aprender muito lá. Do cuidado com assuntos sugeridos até melhorar a qualidade da informação. Havia tantos pedidos, inclusive sobre lúpus, e a gente deixava de lado por puro desconhecimento. Depois fui fazer uma coisa diferente, que era o "Chegadas e Partidas". Eu ficava no aeroporto, ouvindo aquelas histórias e as pessoas diziam: olha, ela é sensível, ela sabe ouvir. A gente está tentando se ouvir mais no "Saia Justa", não falar em cima da outra.

A Barbara já comentou que, inicialmente, existe esse problema em ouvir uma a outra...
A pessoa que está na televisão é um falante, e tem que ser por que ninguém da roda é voyeur. Queremos pautar e não só ser pautadas, falar de assuntos relevantes que estão nas redes sociais.

  • Reprodução/Instagram

    Astrid se prepara para a gravação do quarto piloto do programa, na semana passada: "o primeiro foi para o lixo. Estávamos todas ansiosas"

E você já vai gravar o quarto piloto...
Sim. E nunca vivi isso. Geralmente, não se fazem tantos pilotos assim. Eu era uma pessoa que detestava fazer piloto, porque geralmente servia para arrumar o cenário. Eu não vou sair da Bahia para cá só para ver cenário, eu já ficava nervosinha. O primeiro piloto nosso foi para o lixo. Estavam todas ansiosas, foi um piloto meio teste. Há uma química entre mim e a Barbara, embora eu discorde dela às vezes. Mas isso é legal, deixar a pessoa falar, não precisar concordar. É isso que queremos dizer com "causar". Deixa a blogueira (cubana Yoani Sanchez) falar.

Esse será o 12° ano do programa. Quais são as novidades para segurar o interesse do telespectador?
Ser nós quatro já é novidade suficiente. Isso já dá um puta refresh no programa. Adoro a Monica (Waldvogel), mas ela estava no programa há nove anos. Nos nove anos que fiquei na MTV, passei por entre muitos movimentos. Fui VJ, fiz debate, programa de entrevistas, e saí do ar...

Embora seja algo comum em emissoras na Europa, o programa de debate encontra poucos exemplares no Brasil, menos ainda na TV aberta. Por que você acha que isso acontece? Não é um gênero que interessa ao público em geral?
É falta de ousadia, falta de coragem da TV aberta. Por causa da audiência fácil, eles facilitam o conteúdo. Eles acham que estão facilitando. Falta elenco, falta gente interessante na TV, que tenha o que viver. Tem que ter muita disciplina, seriedade.

Mas você acha que o público geral está interessado então em um programa como o "Saia Justa"?
Sim, acho. Mas tem as mesas redondas...

Sobre futebol...
São geralmente de futebol. São poucos programas de debate de futebol que eu realmente paro para assistir. O resto é mais palpite, e palpite eu tenho com meu marido.

Nos últimos meses, o único programa semelhante que teve foi o "Na Moral", do Pedro Bial. Ao mesmo tempo, por conta da edição, era algo curto...
Era curto. Ele devia ser gravado em um tempo muito grande ou na edição. Mas quem sou eu para ensinar o Pedro Bial? Apresentei o Hollywood Rock ao lado dele. Ele me ensinou muito. Mas o programa era ótimo. E era um pouco parecido com o "Happy Hour". Já no "Saia Justa", quando formos falar sobre, sei lá, a pílula da inteligência, não vamos ter um médico para responder aquela pergunta. Aí a gente vai focar de comportamento. Por que o povo agora quer ser inteligente? Por que antes era a pílula felicidade?

Qual é a diferença, então, na sua apresentação?
Eu falo muito bem para a câmara. Quando olho para ela, eu imagino você, o telespectador da GNT, uma pessoa parecida comigo, com o marido chegando do trabalho, com o filho gritando do lado. É minha brincadeira.

O programa vai ser gravado no Rio?
Vai ser tudo em São Paulo. Já foi puxado aceitar o convite, imagina se fosse no Rio...

Ficou quanto tempo para aceitar o convite?
Foi tempo, viu? Meses. Era para ter acontecido antes. Foi no meio do processo em que eu estava doente. Aí não, né? Muito embora um dos ingredientes bem importantes para mim nessa fase foi isso. Se os caras estão confiando em mim, é por que estou melhorando mesmo. Fiquei pensando nisso mesmo e foi muito positivo.

Era um convite para a temporada anterior?
Sim. Era para um outro momento inicialmente. Mas que bom que aos 50 anos e 16 de profissão posso passar por isso. Ter medo. E medo é respeito. Afinal, não estou andando para o lado, estou andando para a frente.

O "Chegadas e Partidas", como você falou, ainda é muito lembrado. Vai ter uma nova temporada?
Todo mundo me pergunta isso, mas sim, vou voltar a fazer. Vai ter um respiro nos primeiros meses do "Saia Justa", mas depois voltamos a gravar. Já fico constrangida, porque todo mundo trabalha todos os dias da semana. Mas hoje, com a condição física, não quero me exceder.

Você era espectadora das outras edições do "Saia Justa"? Lembra de um elenco que você mais gostou?
O primeiro, com certeza, é imbatível, quando o GNT estava entrando. Aquilo era genial. Ter a Rita Lee em uma roda é um objeto de desejo, é uma loucura. Eu gostava da Luana (Piovani), o ruído que ela causava. Eu não concordava, mas é isso. Adoro o humor da Beth Lago, que é algo mais recente.

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