"Na minha cabeça me sinto com 35, 40", diz Marília Pêra sobre os 70 anos

Renato Damião

Do UOL, no Rio

  • Divulgação/TV Globo

    Marília Pêra celebra 70 anos nesta terça. Ela está no elenco do seriado "Pé na Cova"

    Marília Pêra celebra 70 anos nesta terça. Ela está no elenco do seriado "Pé na Cova"

Marília Pêra completa 70 anos nesta terça-feira (22) e não pretende celebrar em grande estilo. A razão, segundo ela, são os trabalhos. No teatro ela dá vida a protagonista do musical "Alô, Dolly", em cartaz no Rio, na televisão ela interpreta a maquiadora alcoólatra, Darlene, do humorístico "Pé na Cova" que estreia quinta-feira.

Em entrevista ao UOL, Marília brincou dizendo que "é horrível fazer 70 anos", mas em seguida explicou: "Vou completar 70 anos da mesma maneira que sempre vivi: trabalhando sem parar. Vai ser um dia como qualquer outro, mas claro que sinto orgulho da minha idade, mas é engraçado, na minha cabeça me sinto com 35, 40 anos".

Dona de uma forma física impecável, Marília ressaltou que desde o tempo de bailarina se habituou ao exercício físico. "Quanto mais o tempo passa, mais você precisa exercitar o esqueleto. Eu não me deixo engordar", ressaltou ela dizendo que não teme a morte, mas faz o que pode para retardá-la.

"Nos últimos anos eu tenho ido a tantos enterros, velórios, missas de sétimo dia. Tantos amigos queridos morrendo. É um sinal da vida avisando que todo mundo vai morrer", opinou ela. "Tento viver o presente e ser feliz hoje", disse Marília. Leia a entrevista completa abaixo.

Duelo Marília Pêra: Qual foi a melhor personagem vivida pela atriz na TV?

  • Montagem/Divulgação

    Relembre alguns dos personagens mais marcantes e vote em seus favoritos.

UOL – Você está fazendo 70 anos, qual a sensação?
Marília Pêra
– É horrível (risos).  Vou completar 70 anos da mesma maneira que sempre vivi: trabalhando sem parar. Vai ser um dia como qualquer outro, mas claro que sinto orgulho da minha idade, mas é engraçado, na minha cabeça me sinto com 35, 40 anos.

No prólogo de "Pé na Cova", o Miguel Falabella diz que todo homem após os 50 anos precisa lidar com a finitude de seus dias. Com você aconteceu o mesmo?
Em 1973 eu fazia uma personagem que dizia para a plateia: "Todos vocês vão morrer". O público reagia esquisito e eu não me preocupava com aquilo, eu achava que a morte era uma coisa que acontecia com pessoas mais velhas, mas nos últimos anos eu tenho ido a tantos enterros, velórios, missas de sétimo dia. Tantos amigos queridos morrendo. É um sinal da vida avisando que todo mundo morrer.  É uma coisa horrível, mas é a verdade. Eu tento retardar porque a vida esta aí e é boa, oferece muitas possibilidades. É um privilégio estar viva. Ser feliz é minha meta e, dentro do possível, fazer felizes as pessoas que estão ao meu redor.

Com a chegada da velhice você começou a sentir urgência de fazer alguma coisa?
Não adianta urgência. Acho que não adianta querer viver no futuro nem no passado. O velhinho gagá está sempre falando do passado, o ansioso, ejaculação precoce, está sempre no futuro.  Os orientais mandam a gente fincar o pé no presente. Dentro do possível tento viver o presente e ser feliz hoje.

A sua forma física é algo que ainda hoje chama a atenção. Você certa vez disse que mantém o mesmo peso da juventude. Quais são seus cuidados?
Não faço nada sem oito horas de sono, e alimentação também é muito importante. Eu como cada vez menos. Eu não como carne e derivados de leite e quase nem como mais peixe. Minha proteína toda vem da soja. Uma coisa que faço sempre é beber quatro copos de água quando acordo, antes mesmo de escovar os dentes. Só depois eu tomo café da manhã.

Divulgação/TV Globo
Meus últimos contratos com a Globo eu devo ao Miguel. Eu tinha que dar um dízimo a ele

sobre a parceria com Miguel Falabella

E exercícios físicos?
Fui bailarina daquelas de sobreviver do balé, sustentei meu filho com o balé clássico e por isso tenho o hábito do exercício. Quanto mais o tempo passa mais você tem que exercitar seu esqueleto. Eu não me deixo engordar. Se eu comesse tudo o que tenho vontade de comer eu seria gorda.  Quando era novinha chorava porque minha perna era fina e todas as mulheres que eu conhecia e admirava tinham pernas grossas. Hoje minhas contemporâneas de pernas grossas não gostam. É melhor ter perna fina sempre, assim não fica nada sobrando quando você fica mais velha (risos).

Voltando a "Pé na Cova", esse é seu terceiro trabalho seguido com o Miguel (antes eles trabalharam em "A Vida Alheia" e "Aquele Beijo")...
Meus últimos contratos com a Globo eu devo ao Miguel. Eu tinha que dar um dízimo a ele (risos).

É bom manter essa parceria?
Acho que o Miguel me preserva. Ele diz para mim: "Essa semana vou te botar numa externa", aí já sei que vai ser uma semana pesada. Ainda tenho o teatro com ele de quinta a domingo. Ele sabe como vai escrever para não me matar de cansaço, assim eu posso aguentar o teatro. Acho bom ter um contato próximo ao autor por isso.

E como é a Darlene?
Ela é uma maquiadora de defuntos, alcoólatra, dependente do gim.  Considero a Darlene uma personagem do bem, para cima, ao sabor do vento. Não liga muito para as coisas. Sinto que por todos esses adjetivos ela é uma iconoclasta, espero que isso resulte engraçado.

Você chegou a ter contato com alguém que maquia mortos para criar a personagem?
Achei engraçado que recebi no meu site e-mails de pessoas que trabalham com isso. Não fiz um laboratório, mas acho muito bonita essa atitude de pegar um corpo inerte, gelado, algumas vezes desfigurado e transformar em algo belo. A Darlene acha que o que ela faz é obra de arte. Eu acho isso muito bonito nela.

O português é uma língua que quase não é exercida no Brasil

sobre a personagem falar errado

Nas chamadas de "Pé na Cova" é possível perceber que os personagens se aproximaram de um linguajar mais corriqueiro, com gírias...
O português é uma língua que quase não é exercida no Brasil, e "Pé na Cova" mostra o quanto nos afastamos do português. Acho que o Brasil está falando assim como estamos falando no seriado. Não estou falando como elogio, nem estou criticando. É apenas algo que está acontecendo com o nosso país. Eu quando falo tudo errado com a Darlene não é que eu queira criticar, eu quero apenas mostrar isso.

Ao longo da sua carreira você sempre viveu personagens grandes mesmo quando você não era necessariamente a protagonista...
Desde quando comecei no balé sempre fui protagonista. Acabei sendo protagonista também no teatro e na televisão. Não gosto de trabalhar por trabalhar, não me agrada fazer um pequeno papel, mas é por causa do hábito mesmo. Eu já me habituei a ter grandes personagens porque minha história é essa.

Existe ainda alguma personagem que você gostaria de fazer e ainda não fez?
No teatro há milhares de personagens que posso fazer ainda. Personagens maravilhosos para atrizes mais velhas.  Na televisão não sei, há muitas obras de autores brasileiros, livros que podem ser adaptados, há personagens femininos extraordinários, mas não tenho nenhum especifico.

Não gosto de trabalhar por trabalhar, não me agrada fazer um pequeno papel, mas é por causa do hábito mesmo. Eu já me habituei a ter grandes personagens porque minha história é essa.

sobre ser protagonista

Algumas atrizes americanas, a exemplo da Bette Midler, já reclamaram que em Hollywood não há bons personagens para atrizes maduras. Aqui no Brasil, você e Fernanda Montenegro são exemplos de atrizes que ainda são requisitadas.  A que se deve isso?
Fernanda e eu somos mulheres que viemos de classe média baixa, mulheres que aprenderam muito cedo a lutar pela sobrevivência e aliaram essa luta pela sobrevivência com a paixão pela sua profissão. Claro que é maravilhoso ser convidada, mas acho que se isso não acontece você deve pegar um texto e montar uma peça. Pega um teatro e vai exercer sua profissão independente do local, do horário. Sou atriz de botar a malinha nas costas e ir mambembar.

Ainda hoje você é crítica com seu trabalho? Costuma rever coisas que já fez?
Não vejo nada do que fiz, não ouço nada do que cantei porque eu só fico vendo defeito. Sou cada vez mais crítica com meu trabalho. Você não pode sentar nos louros senão você vira um velho gagá chato. Ainda tenho inseguranças, o ator que não tem insegurança é o canastrão. Miguel estava falando isso outro dia, o ator que entra em cena cheio de si é um canastrão, o ator que tem alguma sensibilidade, esse pode ser melhor ator.

E após "Alô Dolly" e "Pé na Cova", há algum novo projeto?
Devo voltar ao cinema, que eu amo. Acho que vou fazer o filme baseado no livro da Nélida Piñon "A Doce Canção de Caetana". Os projetos estão começando a caminhar para  o filme sair. Talvez o Miguel também esteja no elenco. Eu iria adorar.  

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