Autor do tema de "Suburbia" diz que soube por amigos que canção de 1976 virou trilha da série

Renato Damião

Do UOL, no Rio

  • Rede Globo

    Cleiton (Fabrício Boliveira) e Conceição (Erika Januza), o par romântico principal de "Suburbia"

    Cleiton (Fabrício Boliveira) e Conceição (Erika Januza), o par romântico principal de "Suburbia"

É só a chamada da nova série da Globo, “Suburbia”, que estreia nesta quinta-feira (1º), ir ao ar para o telespectador repetir o refrão “Dentro desta situação...”. Para quem estava curioso, a canção se chama “Pra Swingar”, foi lançada em 1976 e faz parte do álbum “Sábado Domingo” do extinto grupo de rock paulista Som Nosso de Cada Dia.

Em entrevista ao UOL, Pedro Augusto Baldanza, o Pedrão, de 59 anos, único integrante do grupo ainda vivo, relatou que soube por amigos que música foi escolhida para ser tema da série. “Foi um grande barato, estava em casa e um amigo me avisou pelo Facebook. Nunca ia pensar que uma música escrita há mais de 30 anos pudesse estar na Globo”, disse o músico.

A formação original do Som Nosso, incluía ainda o baterista Pedrinho e Manito, que se revezava em instrumentos como sax, flauta e sintetizadores. “Nós éramos uma banda de rock progressivo com uma pegada do rock inglês”, explicou Pedrão.

A influência do funk, segundo ele, veio da convivência com um marinheiro de Cabo Verde que o apresentou James Brown. “Sou gaúcho e quando fui para São Paulo trabalhava nas boates da beira do cais, esse cara de Cabo Verde trazia os discos de funk e a gente curtia, dançava junto com ele”, relembrou.

  • Reprodução/Facebook

    Pedrão (no alto à esq.), na última formação do Som Nosso de Cada Dia, já como quinteto

Pedrão contou ainda que os versos “dentro dessa situação/ eu só posso convidar você / pra vir dançar comigo” foi inspirado nas inúmeras vezes que ele e Pedrinho foram presos. “Naquela época sofríamos muita repressão por parte dos militares. Músico era chamado de vagabundo. Toda vez que éramos presos tínhamos que assinar um termo de vadiagem, mas nós nos recusávamos, ficávamos dois, três dias na cadeia até eles resolverem nos soltar", disse ele e prosseguiu:  "Dentro dessa situação que nos encontrávamos só podíamos convidar você para vir dançar comigo, sacou?", explicou Pedrão dando risadas.

O Som Nosso existiu entre 1972 e 1978, Pedrão revelou que o fim do grupo foi motivado por falta de oportunidades. “Não tínhamos um produtor, a grana foi ficando cada vez menor”, disse. De lá para cá ele tocou com inúmeros artistas como Ney Matogrosso, Gal Costa, Elis Regina e As Frenéticas.

Conheça a letra de "Pra Swingar"

Dentro desta situação
eu só posso convidar você
pra vir dançar comigo
Dentro desta situação
eu só posso convidar você
pra swingar comigo
REFRÃO
Pra swingar
Eu quero ver você se remexer

Em 94, ele, Pedrinho e Manito tentaram retomar o grupo. O trio chegou a gravar um disco ao vivo, contudo uma semana antes de saírem em turnê uma isquemia cerebral causou a morte de Pedrinho. Em 2008, uma nova chance surgiu e o Som Nosso se apresentou na Virada Cultural Paulista.

“A partir dali eu e Manito começamos a fazer shows em alguns festivais, foi muito bom, deu para movimentar uma grana”, contou Pedrão. "Mas em 2011 foi a vez do Manito partir, resolvi não pensar mais na banda e comecei a trabalhar como produtor", lamentou ele.

"Tenho quase 60 anos, é difícil conseguir espaço para trabalhar, hoje toco com o Sá e Guarabyra e tenho quase 300 canções compostas”, frisou Pedrão. Para ele a mídia "esquece os velhos" em prol da "novidade".

Indagado se recebeu algum dinheiro da Globo pelos direitos de "Pra Swingar", Pedrão ressaltou que não “está pensando nisso”, mas que seria bom ganhar algum "trocado" (sic). “Sei que a Globo paga R$ 3,600 para a EMI e pelo que lembro do contrato ela ficava com 50% dos lucros. Estou pensando em ir ao Rio para rever esse contrato”, garantiu ele que espera ver a canção ser popularizada.

“O que me importa é esse renascimento da música, ela cair na boca do povo. Vai ser lindo a rapaziada cantando 'Pra Swingar' de novo. Há 38 anos ela já levantava as pessoas nos shows, quero ver isso se repetindo”, torceu Pedrão.

Trilha de “Suburbia” mistura funk, jongo e samba

“Suburbia” promete trazer um caleidoscópio musical para os telespectadores. A trilha sonora foi escolhida a dedo pelo diretor Luiz Fernando Carvalho. Na lista, hits como “Garota Nota 100”, do MC Marcinho, passando por “As Canções que Você Fez Para Mim”, de Roberto e Erasmo Carlos, até  o clássico de Cartola “As Rosas Não Falam”.

Já a trilha incidental ficou nas mãos do produtor André Mehmari. O cantor e compositor Ed Motta criou uma trilha adicional inspirada no Blaxploitation, movimento cinematográfico norte-americano que surgiu no início da década de 1970.

As trilhas sonoras dos filmes blaxploitation eram compostas por músicos, arranjadores e produtores musicais consagrados da musica negra americana como Curtis Mayfield, Isaac Hayes, James Brown, Quincy Jones, Barry White, e Marvin Gaye, no entanto Ed Motta precisou dar uma cara mais brasileira ao movimento, por isso a inclusão de ritmos como samba e o jongo. 

Dessa safra destacam-se "O Canto dos Escravos", de Clementina de Jesus, "Vida ao Jongo", de Lazir Sinval e "Bagaço da Laranja", de Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho. Algumas faixas estão disponível para venda pelo iTunes. Segundo a assessoria da série, não há o projeto de lançar um CD só com a trilha de "Suburbia".

UOL Cursos Online

Todos os cursos