Diretor de "Hoje é Dia de Maria" aposta em realismo para "Suburbia", nova série da Globo
Renato Damião
Do UOL, no Rio de Janeiro
-
Reprodução
Luiz Fernando Carvalho, diretor de "Suburbia"
Dos cenários lúdicos e estilo operístico de séries como "Hoje é Dia de Maria" e "Capitu", o diretor Luiz Fernando Carvalho agora vai encarar o desafio de contar uma história realista em "Suburbia", nova minissérie da Globo, que estreia no dia 1º de novembro. E, para ele, será uma "desconstrução" do seu trabalho.
"Se eu não tivesse feito o caminho que eu fiz, trabalhado aqueles temas, eu não teria conseguido fazer 'Surburbia'. De certa forma [a série] é uma desconstrução daquilo tudo. Criar uma linguagem simples é muito difícil, foi preciso ter passado pelo clássico", disse ele durante uma apresentação da minissérie para a imprensa na noite de quinta-feira (18) no Galpão Aplauso, na zona central do Rio.
Além de dirigir, Luiz Fernando também assina o texto de "Suburbia", ao lado de Paulo Lins. A trama narra a vida de Conceição (Erika Januza), uma jovem de Minas Gerais que abandona o trabalho em uma carvoaria e decide se mudar para o Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades. Chegando à cidade, ela vai trabalhar em diversos locais e embarca em uma história de amor com Cleiton (Fabrício Boliveira).
Segundo o diretor, o projeto foi inspirado em uma mulher com quem conviveu durante 25 anos, e a quem carinhosamente chama de "minha mãe preta". "A história foi escrita por mim, mas o ponto de partida foi a Betânia, uma espécie de 'mãe preta' para mim que, assim como a personagem Conceição, também saiu de Minas Gerais e foi morar no subúrbio do Rio", revelou Luiz Fernando, que há dez anos guarda anotações sobre o relacionamento com Betânia.
"Passei minha primeira infância em Piedade [bairro da zona norte do Rio] porque meu avô era caminhoneiro", prosseguiu ele, afirmando que já tinha contato com bairros que serviram de locação para a trama como Madureira, Quintino e Jacarepaguá.
Todos os oito capítulos da série foram gravados em locações externas, sem cenários ou cidade cinegráfica. "Foi muito complexo, mas por outro lado foi um prazer muito grande", garantiu ele, que teve carta branca da Globo para trabalhar com um elenco de não-atores.
Para Luiz Fernando, o elenco lhe proporcionou uma de suas melhores experiências. "Eles produzem o acontecimento na frente das câmeras", explicou ele, que teve auxílio do preparador de elenco Nelson Fonseca.
Indagado sobre a escolha do nome "Suburbia", o diretor contou que, mesmo com tom naturalista, "há uma liberdade mítica na história". "Essas dimensões míticas habitam o cotidiano das pessoas. O cara que pega o trem todo o dia, ele precisa inventar uma realidade nova, senão ele não vive, não sai da cama. Quando me aproximei da realidade vi que ela não existe e que precisa ser inventada como a mais pura poesia", finalizou.
-
Elenco de "Suburbia" no evento de lançamento da série no Rio de Janeiro
Os atores de "Suburbia"
Assim como Conceição, Erika, de 27 anos, também é mineira, da cidade de Contagem. “Trabalhava como auxiliar administrativo em uma escola, mas sempre sonhei em ser atriz. Enviei uma foto para o casting e acabei sendo chamada para fazer um teste. Nem acreditei quando passei”, contou Erika, que, assim como a maioria do elenco, nunca havia tido experiência como atriz.
Morando no Rio desde julho, quando começaram as gravações, Erika contou que chorou quando entrou pela primeira vez no Projac (complexo de estúdios da Globo). “Há cinco anos vim ao Rio e tentei tirar uma foto na frente do Projac, mas o segurança não deixou. Quando entrei lá, com crachá e tudo, chorei de emoção”, relembrou ela.
Quem também “não acreditou” ao ser chamada para um teste foi Ana Pérola, gari de 26 anos que trabalha nas ruas do centro do Rio. “O Nelson Fonseca pediu para tirar uma foto minha, mas eu estava no horário de trabalho e não deixei, mandei ele me procurar no baile charme do viaduto de Madurei. Não acreditei quando ele apareceu lá”, contou Ana.
Em “Suburbia” ela interpreta Jéssica, antagonista de Conceição, e Miss Subúrbio. “A Jéssica é uma devassa, eu digo que ela não tem figurino porque as roupas quase não existem”, explicou Ana Pérola que garantiu não ter se inibido na hora de gravar as cenas de sexo e nudez.
Do grupo, um dos mais experiente é Fabrício Boliveira, intérprete de Cleiton. Ele precisou fazer três testes até que Luiz Fernando Carvalho decidisse por ele. Sobre a importância de um elenco majoritariamente negro em uma produção da Globo, o ator elogiou: “É uma oportunidade linda que não temos muito na televisão. Acho que essa é a nova cara da Globo”, disse ele.
Para Guti Fraga, ator e idealizador do Nós do Morro, “Suburbia” é um projeto revolucionário. “Esse é um projeto muito grande, forte e necessário, é bom que os moradores do subúrbio possam se reconhecer na televisão”, pontuou.
-
Os atores Fabricio Boliveira (Cleiton) e Erika Januza (Conceição), protagonistas de “Suburbia”
Apresentação de jongo e comidas populares
Realizada em um galpão intitulado de Aplauso, a coletiva de “Suburbia” reuniu grande parte do elenco e da produção da série. O cenário foi decorado com pneus e caixa de cervejas empilhados formando uma estante no qual garrafas coloridas e velas foram sobrepostos.
No menu os destaques foram as comidas típicas de botecos como linguiça acebolada, rissole de queijo com presunto, espetinho de queijo coalho, coxinha de galinha e bolinho de bacalhau. Mini porções de churrasquinho de carne com farofa e molho à campanha também foram servidos.
As bebidas incluíram sucos e refrigerantes até cerveja e champanhe. Um grupo de pagode abriu a noite que contou ainda com apresentações de hip-hop e de jongo. Paulo Lins, o roteirista, escreveu um texto que foi lido por Fernando Carvalho.
“Vamos exibir um subúrbio o mais naturalista possível, sem estereótipo. Um subúrbio no qual a cultura brota a todo instante, onde as relações de amizade formam uma rede delicada de afeto”, finalizou Paulo Lins.