Alguns papéis mudam bastante ao longo de uma novela. E isso pode ser um problema ou tornar o personagem mais instigante para o intérprete. Daniel Rocha, que vive o Roni de "Avenida Brasil", está no segundo caso. Até pouco tempo, parecia que o personagem poderia ser homossexual. Principalmente pelo carinho especial que nutre pelo amigo Leandro, de Thiago Martins. E também por nunca aparecer na companhia de uma mulher. Mas agora Roni casou com Suelen, de Isis Valverde. Mesmo que por conveniência, a união na trama o leva para um caminho oposto ao que parecia seguir antes. "Acho que isso faz o público ficar com um ponto de interrogação, não saber exatamente o que o Roni é. Sai do óbvio e é mais interessante", avalia.

Nem o próprio Daniel sabe bem o que vai acontecer na história. No início, o ator recebeu a informação de que seu personagem seria um grande amigo de Leandro. Mas nada especificamente sobre uma possível relação amorosa entre os dois lhe foi dito. "Eu não sabia o caminho. Espero o roteiro vir para ver o que vou fazer", explica ele, que apostou na construção de um perfil mais frio e tímido no início. Com o passar do tempo, foi mudando essa característica. Um dos filmes em que buscou referência foi "O Segredo de Brokeback Mountain", de Ang Lee. Apesar de o longa retratar o relacionamento homossexual de dois homens, no meio oeste dos Estados Unidos, Daniel se concentrou na forte amizade entre eles. "Independentemente do que aconteceu, eles são amigos acima de tudo. Assisti para pegar isso. É uma história sem estereótipos", descreve.     

Apaixonado por cinema, Daniel também observa atores que admira – entre eles, Marlon Brando e Heath Ledger – com o intuito de aproveitar algo para os papéis que interpreta. "São caras que vejo e falo: 'Quero chegar lá um dia'", torce. Para compor Roni, inclusive, Daniel assistiu a "Vidas Amargas" com James Dean. No filme, o protagonista não tem mãe, assim como Roni, que até então pensava não ter uma, mas descobriu que na verdade é filho de Dolores, de Paula Burlamaqui. "A diferença é que Roni ama o pai e o personagem do James Dean odiava o dele. Mas, no final do filme, ele acaba amando o pai também", compara.

O trabalho de composição que Daniel fez foi bem além do perfil psicológico de Roni, que é jogador de futebol do fictício Clube Divino. Por isso, o ator precisou frequentar aulas do esporte durante alguns meses ao lado de Cauã Reymond, Thiago Martins e Bruno Gissoni, que fazem parte do mesmo núcleo. "Cauã e eu nunca jogamos bola, então foi um pouco mais difícil para a gente. Mas fizemos aula para ver se melhorava. Melhorou um pouco", admite, aos risos. A pouca familiaridade com o futebol, aliás, é motivo de brincadeira nos bastidores. Para fazer a cena em que Roni marca um belo gol e é elogiado por um olheiro, Daniel precisou repetir cerca de 12 vezes. "Tinha de ser um gol bonito. O Thiago sabe que eu fico nervoso e fala: 'Calma, Daniel, vai dar certo!'", conta. 

Outro momento marcante para Daniel foi a sequência em que Roni foi espancado no cativeiro em que Suelen estava. Na história, o personagem ficou totalmente debilitado por três dias. "Para o trabalho de ator, é muito bom representar isso", garante ele, que nunca havia atuado na tevê. Antes de "Avenida Brasil", Daniel fazia parte do CPT – Centro de Pesquisa Teatral –, dirigido por Antunes Filho, em São Paulo. Ficou lá por três anos, até resolver experimentar um veículo novo. "Pensei em fazer tevê para ver outras possibilidades. Acho que o ator, hoje em dia, tem de saber percorrer bem todos os veículos", frisa.