No ar em "Cheias de Charme", Juliana Alves diz que público nem lembra que ela foi BBB
Carla Neves
Do UOL, no Rio
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André Durão/UOL
Juliana Alves posa para o UOL na praia de Botafogo, na zona sul do Rio (5/6/2012)
Intérprete da cozinheira Dinha, de “Cheias de Charme”, Juliana Alves, 30, tem se destacado em diversas produções da Rede Globo. Recentemente foi protagonista de um episódio de "As Brasileiras", teve um papel de antagonista em "Ti Ti Ti" e também está no ar na reprise de "Chocolate com Pimenta". O que pouca gente lembra é que Juliana começou sua carreira na TV participando da terceira edição do "Big Brother Brasil". Ficou apenas um mês e, segundo ela mesma, nunca fez esforço para se desvincular do programa. "As pessoas não lembram", diz Juliana, que também interpretou a Gislaine de “Duas Caras” e a Suellen de “Caminho das Índias”.
Durante uma entrevista exclusiva para o UOL - Televisão, diz ter tomado gosto pela culinária quando teve que se preparar para a novela. Antes da preparação para viver a “pedra no sapato” de Rosário (Leandra Leal), a atriz carioca não levava o menor jeito com o fogão. “Era muito desastrada na cozinha, apesar de sempre ter tido necessidade de fazer comida. Minha mãe não tinha empregada, então tínhamos que fazer. Mas tinha um bloqueio, fazia ruim mesmo (risos)."
Leia a entrevista completa com a atriz:
UOL – A Dinha é a segunda vilã que você interpreta na TV. A primeira foi a Clotilde, de “Ti Ti Ti”. Como você definiria essa personagem?
Juliana Alves – A Dinha não é uma vilã como a Clotilde. Ela não age assim com todo mundo, só com a Rosário (Leandra Leal). E pelo fato de a Rosário ser a mocinha, quem rivaliza com a mocinha é a vilã. Então a Dinha é vista como uma vilã. Mas ela é assim com a Rosário por causa desse sentimento que ela tem pelo Inácio (Ricardo Tozzi) e pela inveja. E a inveja é um sentimento humano. Como é uma novela, ela tanto pode se tornar uma pessoa cada vez mais humana, no sentido de as pessoas se identificarem com ela, como também ela pode se mostrar pior. Por isso que eu não gosto de rotular o personagem.
Sua relação com a cozinha mudou depois que começou a viver a personagem?
Eu era muito desastrada na cozinha, apesar de sempre ter tido necessidade de fazer comida. Minha mãe não tinha empregada, então tínhamos que fazer. Mas eu tinha um bloqueio, fazia ruim mesmo (risos). Mas quando eu fiz o laboratório para fazer uma cozinheira, comecei a fazer com calma, me apliquei e passei a gostar de cozinhar. Aos pouquinhos fui melhorando. Agora já sei fazer um medalhão, uma salada de legumes com ervas ao forno, uma batata muito legal, um quiche. Só não sei fazer doce. Mas quero aprender.
Faz quase dez anos que você participou do “Big Brother Brasil”. Tem muita gente que nem se lembra mais que você participou do reality. Você fez algo para desvinvular sua imagem do programa?
Não me inscrevi no “Big Brother Brasil”. Fazem aquela seleção por olheiros e me encontraram em um show do Luiz Melodia. Não acreditava muito que fosse entrar, mas tinha 20 anos e pensei: ‘ah, imagina! Não tenho nada a perder!’. Mas não tinha um desejo de participar, não achava que fosse algo maravilhoso para mim. Mas justamente pela loucura, de ser algo tão desejado por tanta gente e ter caído no meu colo, participei da seleção. Mas também participei muito porque meu ex-namorado estava a fim de entrar e ele estava comigo no dia que me chamaram, então nós fomos juntos... E fui acreditando muito mais que ele entraria, enfim... Quando me chamaram, eu fiquei assustada, mas não tinha nada a perder e participei. Fiquei um mês só, não fiquei muito tempo. E o que aconteceu depois foi um processo que eu vejo como natural. Eu não fiz nada para me desvincular, mas eu também não fiz nada para me vincular, para reafirmar que eu tinha participado do programa.
Você não fez presença VIP, foi a eventos como ex-BBB, nada disso?
Não fiz quase nada. Cumpri apenas alguns compromissos que eu achei que poderiam ser interessantes. Até porque, a questão financeira para mim foi uma questão. Porque eu trabalhava numa loja e não tinha grana para outras coisas. Eu queria fazer um curso de teatro, dar continuidade à minha vida. Houve alguns obstáculos por conta disso. Porque as pessoas te veem de maneira diferente, que eu não me via. E foi por um período curto, mas eu administrei isso com muito pé no chão. De uma maneira até um pouco serena na medida do possível. E foquei no que eu queria mesmo, que era continuar fazendo as coisas que eu fazia e investir no que eu acreditava que era a carreira de atriz.
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Juliana Alves posa para o UOL na praia de Botafogo, na zona sul do Rio (5/6/2012)
Você acha que as pessoas não te veem como ex-BBB?
O que acontece é que hoje as pessoas sabem mais pelas entrevistas que eu participei do “BBB”. Recentemente, alguém comentou comigo que tinha lido uma entrevista que eu dei para uma revista falando que já tinha participado do programa e falou: ‘caramba, eu não sabia!’. As pessoas não lembram.
Mas depois do “Big Brother Brasil 3”, você ficou um tempo afastada da TV...
Foi. Mas aí o Jorge Fernando (diretor) e o Walcyr Carrasco (autor) me chamaram para fazer “Chocolate Com Pimenta” em 2003. E eu fiquei assustadíssima! (risos). Eu fazia teatro amador. Em 2002, eu estava ensaiando uma peça e em fevereiro de 2003 ia estrear a novela. E acabou que eu não estreei o espetáculo, enfim... Quis dar continuidade à minha carreira de atriz e tive uma grata surpresa, por conta dessa visibilidade que eu tive, de fazer logo uma novela, que era algo que eu não vislumbrava tão cedo. Fiz uma oficina de montagem, fiz uns cursos na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras). Na Globo mesmo, depois de “Chocolate Com Pimenta”, eu fiquei sem trabalhar uns dois anos e meio, aí comecei a investir na faculdade de psicologia, que é uma coisa que eu amo.
Você chegou a concluir o curso?
Não. Eu fiz até o quarto período. Mas foi muito bom.
Mas você tem vontade de retomar?
Eu acho que vou estudar psicologia a minha vida toda. Quando eu terminar a faculdade de teatro, que estou fazendo agora e é um curso que me exige muita leitura, quero retomar. Acho que psicologia é uma faculdade que, independente de qualquer idade que a pessoa esteja, você pode fazer. Eu me vejo fazendo tanto daqui a dois anos quanto daqui a 20. Acho que é um curso para a vida.
Sua trajetória como atriz é bem ampla para quem começou há pouco tempo. Você já viveu papeis de destaque em novelas da Globo e recentemente protagonizou o episódio “A Mascarada do ABC”, de “As Brasileiras”, que é uma série que só tem atrizes de peso da emissora. A que você atribui esse caminho que tem trilhado na Globo?
Pois é... Em “As Brasileiras” tem celebridades, divas da televisão, grandes atrizes admiradas pelo grande público. São pessoas que eu admirava há muitos anos. E as meninas novas que estrelam alguns episódios já são protagonistas há um tempo... Em 2003, na minha primeira novela, que foi “Chocolate Com Pimenta”, a protagonista foi a Mariana Ximenes, que estrelou um dos episódios.
Exatamente. A que você atribui essa trajetória, então?
É uma pergunta difícil de responder. Eu não sei se há uma resposta direta a essa pergunta, mas uma análise que eu tenho feito da minha trajetória de um tempo para cá é que eu não criei uma grande expectativa de hoje estar fazendo um personagem bacana, de ter feito uma antagonista em “Ti Ti Ti”, de fazer uma protagonista em “As Brasileiras”. Eu não criei uma expectativa para isso, mas eu sempre acreditei que tinha competência para realizar esse tipo de trabalho, que eu pudesse chegar a um lugar bacana. A maioria dos meus trabalhos é na televisão. E não é o fato de as pessoas me elogiarem e me pedirem autógrafo na rua que me faz achar que estou fazendo um trabalho brilhante. Muito pelo contrário. Tem muita gente boa também que, de repente, não teve a mesma sorte que eu. Eu, apesar de manter sempre a humildade e estar sempre procurando melhorar, tive muita sorte. Conheço pessoas que são muito batalhadoras e que não tiveram a sorte que eu tive.
Eu era muito desastrada na cozinha, apesar de sempre ter tido necessidade de fazer comida. Minha mãe não tinha empregada, então tínhamos que fazer. Mas eu tinha um bloqueio, fazia ruim mesmo (risos)
Você pode dar um exemplo dessa sorte?
Em 2006, quando eu fiz um teste para “Duas Caras”, eu não entrei para a novela. E aí o autor mudou uma característica de um personagem e aos 45 minutos do segundo tempo eu entrei para a novela. Se o autor não tivesse mudado e eu não tivesse acabado de fazer um teste para um outro personagem poderiam não lembrar de mim. Eu tinha acabado de fazer um teste para um outro personagem e o papel do Lázaro Ramos ia ter um irmão e eu não ia entrar na novela. Aí o autor mudou e o personagem do Lázaro passou a ter uma irmã. Então lembraram do meu teste, que tinha sido bom, mas que eu não tinha sido escolhida. Então foi a minha competência para fazer um bom teste, mas também foi muita sorte. E esse personagem foi um divisor de águas na minha vida. Porque foi com ele que eu consegui desenvolver um personagem muito interessante e ganhei um prêmio de atriz revelação. As pessoas começaram a me notar. A própria empresa passou a me ver mais como uma atriz que poderia participar dos testes. Depois disso foi “Caminho das Índias”, que a Glória Perez e o Marcos Schechtman me viram como a Gislaine e me chamaram. Foi um processo natural. Depois veio “Ti Ti Ti”. Eu tinha trabalhado com o Jorge Fernando em “Chocolate Com Pimenta”. E ele um dia passou por mim e falou: ‘você cresceu, amadureceu’. E me chamou para fazer a Clotilde, que foi um papel muito diferente. Em “Ti Ti Ti”, eu precisei parar tudo o que fazia para fazer a novela. Foi o personagem mais difícil que eu já fiz. Em “As Brasileiras” tive mais tempo e tive a ajuda de uma coach. Acho que minha trajetória foi natural, as coisas foram acontecendo, eu tive muita sorte. Eu estava no lugar certo, na hora certa.
O que mudou da Juliana de 2003, de “Chocolate Com Pimenta”, para a Juliana de hoje, de “Cheias de Charme”?
Hoje eu tenho mais maturidade na relação com as pessoas com as quais estou trabalhando e não deixo qualquer adversidade ou insegurança minha me prejudicar no meu trabalho. Trabalho na televisão, que é uma correria no dia a dia. Às vezes a pessoas fala com você de uma maneira um pouco mais atravessada e antes eu já achava que era alguma coisa comigo, pessoal. Me magoava, ficava sentida. Eu ainda sou muito na minha. Eu chego para gravar e brinco com quem brinca comigo. Mas se eu percebo que a pessoa chegou silenciosa eu deixo ela lá no cantinho e respeito. Mas não acho que ela está quietinha porque não quer falar comigo (risos).
E em relação às críticas ao seu trabalho? Você acha que lida melhor hoje?
Em tempos de Twitter, você tem que aprender a lidar melhor. Porque lá tem todo tipo de gente e até pessoas que não existem (risos). Tem muita coisa e muitas opiniões interessantes que não estão lá. Mas eu acho uma ferramenta muito interessante para me comunicar. Isso é uma coisa que eu gosto. Eu gosto de ter essa relação. O meu é @julianaalvesiam. Mas as pessoas se influenciam por muitas coisas. Não sei o quanto as pessoas sabem da minha vida e do meu jeito de ser. Então um julgamento pode estar contaminado. Por isso lido bem com as críticas. Porque não tomo como algo determinante e definitivo. Já o elogio me serve como um incentivo, como uma troca de carinho que me faz bem. Mas de fato, concretamente, não os levo para o meu trabalho como uma aprovação.