Série inglesa com enredo semelhante ao de "Cheias de Charme" estreia neste sábado (19)

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

Agora que o Brasil se tornou o 6º PIB do mundo, o país começa a viver um fenômeno que os ingleses viveram no início do século 20: a ascensão social das classes mais baixas e a consequente escassez de mão de obra para trabalhos domésticos. Guardadas as devidas proporções, a TV deles e a nossa estão mostrando os detalhes dessa transformação. Aqui com a comédia “Cheias de Charme”, da Globo, lá com a série dramática “Downton Abbey”, cuja estreia brasileira é neste sábado (19), às 22h, no canal a cabo Globosat HD.

Premiada e sucesso de audiência nos EUA e no Reino Unido, “Downton Abbey” foi escrita por Julian Fellowes (o mesmo de “Assassinato em Gosford Park”) e mostra as relações entre nobres e servos ingleses e de como estes viviam a vida daqueles “por procuração”, assim como no longa de 2001.

Filmada em um castelo de verdade, com objetos reais do patrimônio dos atuais condes de Carnarvon, a série retrata o “drama” da nobre família do conde Grantham (Hugh Bonneville) para manter o status de poucos às custas da servidão de muitos. Talvez isso explique o choque dos britânicos que hoje vêm ao Brasil trabalhar ilegalmente ao ver as nossas domésticas limpando os vidros dos apartamentos de bairros nobres como Higienópolis e Jardins.

Assim como em “Gosford Park”, a história dos nobres acontece e é influenciada pelos servos dos porões do castelo de Downton. Lá, existem uma ama e um pajem para servir cada nobre. Por servir, entenda-se não apenas fazer faxina, arrumar a casa e cozinhar, mas vestir, engraxar os sapatos, cuidar da maquiagem, do cabelo, enfim, um misto de doméstica com “personal stylist”, mas com aquela boa dose de perversidade que ainda hoje se encontra na relação patroa/empregada aqui no Brasil.

O primeiro episódio acontece no dia do naufrágio do Titanic. No acidente, os dois herdeiros da propriedade morrem, e a família do conde se obriga a conviver com o advogado Matthew Crawley (Dan Stevens). Ele é o próximo na linha sucessória, o que fará com que a condessa de Grantham (Elizabeth McGovern) tente, mesmo que a contragosto, casá-lo com sua filha mais velha. Tudo para manter a propriedade na família, já que o conde só tem filhas e, naquele tempo, mulheres não podiam ser herdeiras.

Crawley é filho de um médico com uma enfermeira e faz uma coisa que os Grantham consideram abominável: trabalhar. Inclusive essa sua prática "peculiar" gera um dos diálogos mais divertidos da série, quando a esnobe condessa Violet (Maggie Smith) lhe pergunta o que é fim de semana.

Totalmente avesso aos mimos que passa a receber quando se muda para Downton, o advogado pensa em se desfazer de seu pajem. A atitude causa tremenda indignação, tanto no pajem, que dedicara-se com orgulho para alcançar tal posto, quanto no conde.

Para que o “estrangeiro” não rompa com a estrutura estabelecida, o conde diz que se ele parar de se utilizar dos serviços de seu pajem, terá de demiti-lo. E que se todos em Downton fizerem o mesmo, causará um grande desemprego. Qualquer semelhança com “eu jogo lixo no chão pra dar emprego por gari” não é mera coincidência.

UOL Cursos Online

Todos os cursos