Amor Eterno Amor

Gordinha, atriz que faz Gracinha às 18h diz que novela tem que ter alguém do tamanho da telespectadora

Carla Neves

Do UOL, no Rio

Intérprete da espevitada Gracinha, de “Amor Eterno Amor”, a atriz Daniela Fontan, de 32 anos, tem sentido pela primeira vez como é sair às ruas sem passar despercebida. “Eu nunca fui tão amada! As pessoas amam a Gracinha. Homem, mulher, criança... Outro dia, estava no metrô e uma senhora me abraçou e começou a chorar, dizendo: ‘ai, eu te amo tanto’”, contou Daniela, em entrevista exclusiva ao UOL.

Embora seja atriz há 20 anos, Daniela admite que nunca tinha tido tanto carinho do público como agora, na pele da irmã de criação de Rodrigo (Gabriel Braga Nunes), protagonista da trama das seis. “Fico um pouco assustada quando apontam para mim e falam: ‘olha lá aquela atriz da novela das seis!’. Porque eu sou da roça e não estou acostumada. Eu nunca fui tímida, mas estou mais tímida do que nunca”, confessou.

Nascida no Pará – onde se passa a novela –, Daniela afirma que não conhecia o Estado antes de fazer a novela, já que mudou-se com a família para o Rio de Janeiro aos cinco meses de idade. “Eu nasci em Belém porque eu nasci prematura. Depois me mudei para o Rio e, quando eu tinha dois anos, meus pais se separaram e fui morar com a minha mãe na Bahia. Eu não sei de onde eu sou. Ultimamente eu tenho sido mais paraense do que nunca”, brincou.

Daniela, que está acostumada a fazer papeis de humor na TV – como a Berenice, de "Escrito nas Estrelas", e a caipira Marli, de "Morde e Assopra" –, acredita que também é atraída pelo gênero por seu biotipo. “Não sou loira do olho azul. Sou gordinha do dente separado. Preciso de um enredo que seja risível”, argumentou.

A atriz afirmou achar “muito ruim” quando quem está fora do padrão televisivo vai dar entrevista e diz que é muito bem-resolvida e se acha linda. “Eu não sou bem resolvida todo dia. Tem dias que eu me acho um lixo, que eu não queria ter celulite, que eu acho que a minha barriga tinha que sumir, cortar com a faca.  Por que só existe gordinha para ser feliz e incrível? Eu não sou dessas gordinhas que se acham incríveis!”, disse.

Leia abaixo a entrevista completa com a atriz:

UOL – Você nasceu no Pará, onde a novela se passa. Foi mais fácil trabalhar em um universo que você já conhecia?
Daniela Fontan –
Isso é bem interessante de se falar porque eu só nasci em Belém. Fui conhecer Belém agora, por causa da novela. Meu pai foi transferido para Belém, para fazer um trabalho temporário, minha mãe foi grávida. Eu nasci prematura. Ela começou a ter contração com seis meses e só conseguiu segurar até o oitavo mês. No sexto mês ela já não podia mais viajar de avião, fazer longas viagens porque estava tendo contração. Então eu sou paraense por causa disso. Meu pai me registrou lá e voltei para o Rio aos cinco meses. Quando eu tinha dois anos, meus pais se separaram e eu fui morar com a minha mãe na Bahia. Eu nasci no Pará, minha família é carioca e eu fui criada na Bahia. Eu não sei de onde eu sou (risos). Ultimamente eu tenho sido mais paraense do que nunca.

Como foi o processo de construção da personagem, então, que é marajoara?
Comecei a perguntar como era o jeito de falar e o que é que tinha lá. Porque desde criança eu tinha essa agonia de não ter referência. Comecei a escutar música de paraense, a comer açaí. Aí as coisas foram vindo. E a Gracinha fez com que eu voltasse para o Pará. Foi um encontro muito lindo. A melhor viagem da minha vida foi para Marajó. Fiquei lá 20 dias por causa da novela e me apaixonei perdidamente por cada pessoa que eu encontrei.

Aí eu falei: ‘Papinha, eu já emagreci um pouco. Mas não adianta. Para eu ficar do tamanho delas eu vou ter que perder metade de mim. Pensando bem, tá bom, sabe por quê? Porque quem está me vendo é desse tamanho aqui. Precisa ter alguém do tamanho do pessoal que me vê na rua’.

Daniela Fontan, dizendo para o diretor da novela por que não iria emagrecer mais

Você acha que já tinha alguma característica paraense?
Não. Mas agora eu vou levar as coisas da Gracinha para a minha vida. O paraense sorri com a alma, com o corpo inteiro. Se o paraense dá um sorriso, ele vai usar o braço, a mão, o pé, a barriga e o cabelo nesse sorriso. Ele vai sorrir com o que ele for. Ele sorri inteiro. E isso muda o olhar da gente. Quando você aprende a sorrir assim, que é o sorriso da Gracinha, muda o seu olhar diante da vida e das coisas.

O que você tem da Gracinha?
A Gracinha é muito hospitaleira. E eu também. Na minha casa e na minha vida só não entra se não quiser. É uma porta aberta. E eu encontrei isso no paraense.

Você esperava que a Gracinha fosse crescer tanto na trama?
Eu já esperava porque ela foi uma personagem que a Elizabeth Jhin [autora da novela] escreveu para mim com muito carinho. Ela não sabia nada da novela. Só sabia que ia ter uma Gracinha e que a Gracinha seria eu. Esse foi o maior carinho que já recebi de um autor. Ela dá uma margem para a gente começar a construir junto. Ela escreve até certo ponto. Depois ela vai vendo o que você está fazendo e vai te devolvendo em cena. É incrível.

  • Ricardo Leal/UOL

    Daniela Fontan em entrevista ao UOL no Rio (11/5/2012)

Quando e como você começou a se interessar pela arte da interpretação?
Comecei a fazer teatro em um Centro Espírita. Tinha 12 anos e era de um grupo kardecista, que tinha um encontro todo domingo. Fazíamos oficina de teatro e montávamos uma peça. Todo mundo entrava em um Fiat 147 – umas dez cabeças –e íamos para a APAE, para orfanatos, asilos. Era o momento mais incrível da minha vida. E o que eu sentia naquela época antes de entrar em cena é o que eu sinto agora.

Você acha que foi aí que descobriu que queria seguir a carreira de atriz?
A gente descobre a vocação. A arte é saber estar com o outro. São encontros, é trabalhar arduamente o encontro. Fui fazendo teatro no colégio, montamos uma companhia, a Companhia do Risco, e nunca mais parei.

Você sempre teve o apoio da família?
Minha mãe sempre me apoiou. Mas minha família não. Porque todo mundo tinha perspectiva e eu não. Era assim: ‘por que você não larga essa palhaçada de teatro e vai arrumar um emprego?’. E eu trabalhava horas! Na verdade, minha família sempre se preocupou porque é todo mundo duro. Não tinha ninguém para me bancar. Não dormir, ganhar mal, não saber o que vai ser da sua vida daqui a seis meses... Isso é muita aflição para o coração de mãe (risos).

“Amor Eterno Amor” não é sua primeira novela na Globo. Você já interpretou vários personagens cômicos na TV. A que você atribui essa atração pela comédia?
Eu sou palhaço. Tenho um grupo de palhaços que vai a hospitais, chamado Roda Gigante. Fazemos intervenções artísticas em cinco hospitais da rede pública do Rio. É um trabalho lindo de humanização através da arte. Damos cursos para os médicos. A gente dá consulta, junto com o pediatra, o cardiologista (risos). Na verdade, quem faz comédia é o autor. Quem está fazendo comédia em ‘Amor Eterno Amor’ é a Elizabeth Jhin. Porque a realidade de folhetim é risível. Ainda mais porque não sou loira do olho azul. Sou gordinha do dente separado. Preciso de um enredo que seja risível. Querendo ou não acaba levando para isso.

Então você acha que o seu biótipo também contribui para que você faça mais humor?
A verdade é que as pessoas se veem mais ou menos representadas na TV. O Papinha [Rogério Gomes, diretor da novela] pediu para eu emagrecer. Eu emagreci porque eu estava bem mais gordinha. Mas aí eu cheguei lá para gravar com as outras meninas e elas são esculturais. Elas não são só bonitas: elas são esculturais e magras. E elas têm esse biotipo! A Carol [Castro] tem o corpo esculpido. A Andréia [Horta] também é linda. Eu falei: ‘bom, eu posso emagrecer e ficar desse tamanho, mas não vai ser eu’. Porque a minha estrutura não é essa. Eu vou ficar abatida. Aí eu falei: ‘Papinha, eu já emagreci um pouco. Mas não adianta. Para eu ficar do tamanho delas eu vou ter que perder metade de mim. Pensando bem, tá bom, sabe por quê? Porque quem está me vendo é desse tamanho aqui. Precisa ter alguém do tamanho do pessoal que me vê na rua’.

Eu falei: ‘bom, eu posso emagrecer e ficar desse tamanho, mas não vai ser eu’. Porque a minha estrutura não é essa. Eu vou ficar abatida.

Idem, mas para si mesma...

Você é bem-resolvida com o seu corpo?
O que eu acho muito ruim é que quando você não está dentro de um padrão televisivo e vai dar entrevista, todo mundo quer que você fale: ‘eu sou muito bem-resolvida, eu me acho linda’. Eu não sou bem resolvida todo dia não. Tem dia que eu me acho um lixo, que eu não queria ter celulite, que eu acho que a minha barriga tinha que sumir, cortar com a faca. Mas tem dia que eu me acho incrível, igual a todo mundo, nem mais nem menos. Por que só existe gordinha para ser feliz e incrível? Eu não sou dessas gordinhas que se acham incríveis não. Não quero levantar nenhuma bandeira de que as pessoas precisam ter a bunda imensa. Acho que a gente tem que se respeitar e se amar independente do tamanho que a gente tem. A gente tem que respeitar o fato de a gente de repente não se amar todo dia. Porque tem dia que a gente acorda de ovo virado e se acha um lixo. Tem dia que eu olho e falo: ‘Deus, você fez uma bobagem botando a minha bunda desse tamanho. Você não entende de proporção? (risos)’. Mas tem dia que eu falo: estou uma sereia! E eu acho que a Carol [Castro], a Andréia [Horta] e a Daniella Cicarelli acordam assim também. Só que quando você é muito magrinho, lindo, você não precisa. E quando você é gordinha, as pessoas querem que você diga que se acha linda.

Eu não sou bem resolvida todo dia não. Tem dia que eu me acho um lixo, que eu não queria ter celulite, que eu acho que a minha barriga tinha que sumir, cortar com a faca. Mas tem dia que eu me acho incrível, igual a todo mundo, nem mais nem menos. Por que só existe gordinha para ser feliz e incrível? Eu não sou dessas gordinhas que se acham incríveis não. Não quero levantar nenhuma bandeira de que as pessoas precisam ter a bunda imensa.

Idem, criticando a apologia da gordura

Como está sendo a repercussão da Gracinha nas ruas?
Maravilhosa. Eu ando de ônibus porque eu não sei dirigir e eu não tenho carro. Então eu vou para o Projac de ônibus. Gente, eu nunca fui tão amada! As pessoas amam a Gracinha. Homem, mulher, criança... Outro dia, estava no metrô e uma senhora me abraçou e começou a chorar, dizendo: ‘ai, eu te amo tanto’. No Pará, quando participei do ‘Ação Global’, fomos com quatro seguranças. E eu falei: ‘ai, que absurdo, gente! Segurança?’. Daqui a pouco, os seguranças estavam fazendo uma corrente porque tinha tanta gente em volta que eu não estava conseguindo ir embora. Aí eu fico um pouco assustada quando apontam para mim e falam: ‘olha lá aquela atriz da novela das seis!’. Porque eu sou da roça e não estou acostumada. Eu nunca fui tímida, mas estou mais tímida do que nunca (risos).

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