A Springfield que inspirou os "Simpsons" carece de peixes mutantes e palhaços milionários

Fernando Mexía

Encontrar semelhanças razoáveis entre Springfield, no Oregon, e sua irmã dos desenhos animados onde vive a popular família Simpson é mais uma questão de fé que um desses casos televisivos baseados em fatos reais.

A cidade de verdade tem 59 mil habitantes, quase o dobro da população estimada para a série criada por Matt Groening, não abriga uma usina nuclear e vive a maior parte do ano coberta por nuvens cinzentas que trazem frequentes chuvas, que nada têm a ver com o céu azul de "Os Simpsons".

Springfield, no Oregon, não foi repetidas vezes ameaçada por grandes catástrofes, carece de peixes mutantes e palhaços milionários e tampouco foi fundada por um antigo pirata reconvertido em explorador, como acontece na série.

Sua maior calamidade, como em outras muitas partes dos Estados Unidos, é o desemprego.

É uma cidade operária localizada no condado de Lane nas proximidades de duas grandes florestas, Siuslaw e Willamette, e entre o leito dos rios McKenzie e Middle Fork Willamette, um entorno natural que propiciou o desenvolvimento urbano em torno da indústria da madeira que já chegou a representar 80% de sua economia.

Se existisse um Homer Simpson em Springfield (Oregon) o mais provável é que trabalhasse em uma serraria ou na fábrica de celulose International Paper, a principal empresa da área cujas chaminés marcam o perfil da urbe e à distância poderiam lembrar a usina nuclear da série, propriedade do avarento Senhor Burns.

Agora os moradores da verdadeira Springfield vivem à margem do interesse midiático despertado pela recente confissão de Matt Groening que tomou o nome dessa cidade (uma das mais de 30 que tem esse nome nos EUA) para batizar à localidade onde transcorrem as aventuras de "Os Simpsons".

"Os personagens não refletem o que está acontecendo na comunidade", declarou à Agência Efe a diretora da Springfield High School, Carmen Gelman.

Carmen é possivelmente a representação mais destacada do aumento da população latina na região durante a última década e em sua escola 13% dos estudantes são dessa etnia, a maioria proveniente de famílias emigrantes mexicanas.

Ao contrário do que ocorre na escola de Bart e Lisa Simpson, na Springfield High School o espanhol é habitualmente ouvido pelo megafone e ali se trabalha pela tolerância entre seu multicultural alunado.

"A cidade realmente está tentando mudar. Acho que as pessoas têm estereótipos distorcidos e a série às vezes os reforça", comentou Carmen.

Certo é que em Springfield também são apaixonados pelos donuts, assim como na série, como prova a presença de vários estabelecimentos especializados nesse doce em um parque chamado Skinner, como o diretor do colégio do desenho animado, e inclusive há um bar que dizem ter inspirado a taverna do Moe.

O local, "Max's Tavern", está realmente em Eugene, cidade maior e mais rica, tecnicamente fusionada com Springfield, e é frequentado por clientes de toda a vida e alguns estudantes universitários.

"Vem muita gente perguntar se esta é a taverna do Moe", comentou a garçonete Nichole Buckey, que não quis dar mais detalhes de uma possível relação entre os bares.

Além de uma escultura de Bart e outra de Burns perdidas entre uma coleção de troféus e uma imagem de Marge Simpson seminua colada na porta de um armário no qual se guardam jogos de mesa, nada no local faz lembrar o programa de televisão.

No entanto, bastou pôr o tema na mesa para que os frequentadores da taverna começassem a debater sobre as semelhanças com a série, encorajados pelos efeitos do álcool, em um ambiente que por momentos parecia tirado de um capítulo de "Os Simpsons".

"Matt Groening bebeu aqui", afirmou convencido um jovem chamado Neil que dizia estudar comunicação e se esforçava para explicar que, em sua estrutura, o bar era igual ao de Moe e que Springfield era como na televisão.

"A única diferença é que as pessoas não são amarelas", concluiu.

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