A vida depois do "BBB": reality é para quem não tem muito a perder

Max Porto

Max Porto

Especial para o UOL
  • Fernanda Pineda/UOL

    Ter "um milhão" tatuado na testa é um fardo muito difícil de se lidar

    Ter "um milhão" tatuado na testa é um fardo muito difícil de se lidar

Olá, turma! Tio Max está de volta, desta vez para falar sobre o preconceito e a discriminação que nós ex-BBBs e campeões sofremos.

Numa sociedade repleta de padrões e regras de comportamento, obviamente tudo que é novo gera curiosidade e estranheza. Mas se houver o mínimo de paciência, não demorará muito para que o conforto da certeza venha. Sabedoria é libertação.
 
Mas como entender algo tão surreal quanto o "BBB"? Como e por que as pessoas vão parar lá dentro? Enfim, são muitas dúvidas sobre esse universo, toda a mítica da TV brasileira e seus participantes. Numa sociedade onde as pessoas fazem questão de muitas vezes passarem despercebidas, invisíveis dentro de suas bolhas, todos hipnotizados em suas microjanelas em seus celulares, como compreender alguém que se dispõe a vender sua intimidade para todo o Brasil em horário nobre durante três meses? 
 
O "BBB" é feito para pessoas que não têm muito a perder, só têm a ganhar. Diante de tantas oportunidades, expor a intimidade parece ser leve num primeiro momento, até que se sai daquela casa e você começa a sentir na pele a força do preconceito e discriminação de todos aqueles que não fazem ideia do que você passou lá dentro. 
 
Quem tem o que perder, e mesmo assim faz a escolha de arriscar, aqueles que possuem um emprego estável, uma carreira promissora, por exemplo, e acha que ao sair poderá seguir de onde parou, com certeza se arrependerá amargamente no pós-"BBB", por que de fato perde e muito! No pós-"BBB", não existe muita credibilidade. Os rótulos estabelecidos estigmatizam praticamente todos os ex-BBBs. Toda a formalidade exigida nas carreiras cai por terra, pois dificilmente alguém te levará a sério. O preconceito praticamente obriga quem está de fora a acreditar que ser ex-BBB é uma espécie de indivíduo que não tem muita responsabilidade. Imenso engano!
 
Nos caso dos campeões, e isso eu posso dizer com muita legitimidade, é bem pior! As pessoas imaginam que, ao ganhar o prêmio, você já está aposentado, com a vida ganha. Percebi muito cedo que esta grana não era um prêmio da Mega Sena e eu teria que continuar a minha batalha. Só que, desde então, com um pouco mais de recursos. Ter "um milhão" tatuado na testa é um fardo muito difícil de se lidar. Quem daria uma oportunidade de emprego para um "milionário"? "Irmão, você já teve a sua chance". Fui privado por muito tempo de poder exercer uma profissão que não fosse a minha, artista plástico, pelo simples fato das pessoas pre julgarem que eu não precisava mais trabalhar. Todos olham pra mim e imaginam que eu já tenha no mínimo triplicado a minha "fortuna". Se para quem ganha é delicado seguir adiante, imagine quem sai do "BBB" praticamente de mãos abanando? Ou seja, a imensa maioria dos participantes. 
 
A melhor opção é a reclusão, pois assim se espera que as pessoas esqueçam da sua passagem pela casa e com isso você consiga retomar sua vida, mas isso demora muitos anos. E como se sobrevive até lá? Ex-BBBs têm que ter, acima de tudo, a capacidade de se reinventar dobrando seus esforços para provar que são capazes. Muitos optam por querer apagar, com muita dor, tal experiência. Ser um ex-BBB mal-sucedido é ter quase sempre a obrigatoriedade de ser um exilado ou renegado e esse dízimo se paga com muita dor.
 
Sempre digo que o pós-"BBB" é quase desumano. Muita pressão e cobrança por parte de todos. Muito fácil surtar e perder o controle diante de certas situações. Esse é mais um dos fatores que contribuem com o preconceito contra os participantes do "BBB" Barracos, brigas, polêmicas que ganham as mídias e fazem com que a opinião da massa sobre a nossa "espécie" seja cada vez mais desabonada. 
 
Diante do preconceito, as pessoas criam muitas expectativas e quando não são atendidas geram frustração. Com a frustração, a opinião que se passa adiante é sempre derrotista. Vou citar um exemplo, dos milhares que tenho, o mais recente.
 
Estava eu num bar aqui em Curitiba na semana passada, quando de repente uma mulher pediu para tirar uma foto comigo. Sempre faço questão de saudar a pessoa e depois da foto feita eu pergunto o nome e agradeço. Geralmente surgem conversas bacanas daí. A moça estava mega surpresa com minha presença, perguntou se eu estava de férias ou fazendo presença VIP. Disse que não, que morava em Curitiba e que estava ali com meus amigos me divertindo. Ele me olhou com muita surpresa, como quem pensa "Como assim?".
 
Do nada, ela me perguntou se eu estava disfarçado, já que usava barba e mangas compridas. "Tá querendo esconder as tatuagens pra ninguém te reconhecer né?". Eu sorri e respondi: "Eu também sinto frio". Disse a ela que geralmente as pessoas esperam de mim comportamentos que não têm nada a ver comigo só por que eu participei do "BBB" e venci. Esperam que eu chegue nos lugares saudando todos e chamando a atenção para mim, como se eu não tivesse o direito de querer ser discreto. Se agir dessa maneira, automaticamente dirão que sou exibido e que faço de tudo para chamar a atenção. Se eu opto em ficar na minha, dirão que sou metido, que me "acho". Não é fácil atender cada uma das expectativas alheias.
 
Somos todos naturalmente competitivos. Lutamos todos os dias para conquistar nosso espaço e pela nossa sobrevivência, a lei do mais forte nos obriga a querer ser melhor sempre e muitas vezes querer ser melhor que o outro a maneira mais fácil de se sentir melhor e diminuindo o próximo. Num todo onde existem algumas muitas pessoas inseguras e frustradas com sua existência, é natural o impulso da repulsa a pessoas que são bem-sucedidas, belas, famosas e por conta disso vivem uma vida cheia de emoções e aventuras.
 
Não posso deixar de mencionar os pseudointelectuais que adoram menosprezar o "BBB" e seus participantes numa tentativa patética de demonstrarem serem mais inteligentes ou cultos. Lembro-me agora de um ocasião que um desses me abordou: "Desculpa, mas percebi que algumas pessoas vieram tirar fotos com você, por quê?". Ao me apresentar, a pessoa disse: "Desculpe, não sei quem você é, não assisto a esse lixo". Respondi de pronto: "Também não faço ideia de quem você seja, então estamos empatados, tudo bem". Em seguida, perguntei se a pessoa gostava de assistir a futebol, ele me disse que amava, então fiz um comparativo: "TV é entretenimento, tudo que se passa ali tem um único propósito, te distrair, assim como o futebol que passa aos domingos, onde você perde seu tempo torcendo, se emocionando, gritando, xingando o 'BBB' tem a mesma função! Por que um é melhor que o outro? Posso me considerar melhor ou mais inteligente que você pelo simples fato de não gostar de assistir, acompanhar e gastar dinheiro com futebol?". Na mesma hora o petulante rapaz se calou. Quer ser culto, busque conhecimento em livros e salas de teatro.
 
Os BBBs, há mais de 13 anos, são os judas da sociedade atual. Nos linchando publicamente, a maioria daqueles que não são seguros de si se confortam dentro da falsa ilusão de que são melhores.  Enfim, a grande verdade é que a maioria das pessoas que criticam são aquelas que dariam tudo para estar no lugar de seus alvos. Todos aqueles que agiram de forma discriminatória comigo adorariam estar no meu lugar, só não tiveram coragem e capacidade.
 
A melhor forma de combater o pré-conceito é ser atencioso e estar sempre com o sorriso no rosto. Adoro quando ouço: "Achava que você era um cara metido, mas conversando melhor, percebi que você é um cara legal". Muito boa a sensação de quebrar paradigmas.
 
A grande verdade é que todos somos, independentes de sermos ex-BBBs, pessoas extremamente complexas, muito além de um avatar, uma faceta que se originou dentro de uma experiência de confinamento.
 
Somos ex-BBBs, mas somos "limpinhos". Quando tiver a oportunidade de encontrar um de nós, tente conversar de boa e peça para que tire suas dúvidas numa conversa gentil e educada. Posso garantir que será uma experiência única e enriquecedora! Não mordemos e a maioria de nós é bem legal. Não se deixe levar pelo pré-conceito e preocupe-se me buscar o real conceito! 
 
Até o próximo, turma! 

Max Porto

Campeão do BBB 9, artista plástico, roqueiro, pai da Luna. Atualmente sou gerente de comunicação estratégica da maior rede de casas noturnas do Brasil.

UOL Cursos Online

Todos os cursos