Como na prisão, cigarro vira moeda de troca no "BBB", compara especialista

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

Uma sucessão de brigas movimentou a casa mais vigiada do Brasil. O motivo? Cigarro. A bronca mais recente delas envolveu o brother Vagner, eliminado nesta terça-feira (29). Assim que deixou o reality, ele colocou em sua mala um maço comprado com suas estalecas. Lá dentro, os colegas de confinamento não gostaram nem um pouco da atitude. "Isso é egoísmo", disse Letícia. "Só faltou colocar o pacote de pão na mochila", declarou Diego.

O médico João Paulo Becker Lotufo, responsável há 14 anos pelo grupo de antitabagismo da Universidade de São Paulo (USP), explicou que a atitude dos brothers é semelhante a observada nas prisões. "Em um ambiente restrito, o cigarro vira moeda de troca", afirmou. "É o que ocorre em uma penitenciária. O sujeito diz assim: 'eu troco minha maçã por um maço'".
 
O gesto do brother foi o ápice de várias desavenças causadas pela falta do tabaco. Em sua 14ª edição, a produção do "BBB" já sabe muito bem como usar o vício dos participantes para estimular brigas e desavenças e, claro, aumentar a audiência. Na própria ficha de inscrição do programa, há uma questão que busca saber quantos cigarros o candidato fuma por dia, qual marca e com que frequência. "Em um estado de abstinência, durante uma discussão, a pessoa pode até chegar às vias de fato", alertou o médico.
 
"(Vagner) é dependente. Quando saiu, ele pode ter agido instintivamente. Lá fora, quanto tempo ele demoraria até encontrar um maço? O fumante tem esse problema. Ele precisa do maço perto dele. Isso o acalma", analisou Lotufo.
 
As brigas começaram quando os brothers do quarto Sibéria perceberam que a quantidade de dinheiro (estalecas) que tinham não seria suficiente para comprar comida e cigarro.  "Não como peixe, o peixe sobra e o meu cigarro não vem. Não acho justo", reclamou Vagner na ocasião. Diego também chegou a afirmar que não abriria mão do cigarro para comprar comida. 
 
Coincidência ou não, os fumantes Diego e Vagner foram os que mais emagreceram entre todos os participantes nos 15 dias de confinamento. Diego perdeu 3,4 quilos, enquanto Vagner saiu da casa com 5 quilos a menos. "Quando se para de fumar, a tendência é a pessoa engordar. Mas na casa eles trocaram o alimento pelo cigarro e isso pode ter causado a perda de peso", completou Lotufo. 
 
Além disso, em diversos momentos, as conversas dos brothers giraram em torno do vício no cigarro. Júnior, por exemplo, revelou que sua vida é pautada pelo fumo. "Se vou à balada, antes de procurar a saída de emergência ou o banheiro, eu procuro o fumódromo", disse. "A mesma coisa no aeroporto, quando tenho que fazer conexões", continuou o paulista. Já o brother Cássio contou que seu humor altera quando fica sem tabaco: "Eu fico nervoso". 
 
O casal Franciele e Diego costuma trocar cigarros quando o maço acaba. Porém, Diego disse que não adianta nada. "O meu é mais forte. Ela fuma o light. Não me deixa saciado", disse durante uma conversa com outros brothers. 
 
A dependência do cigarro ficou tão evidente na casa que até o humorista Maurício Ricardo percebeu. Ele fez uma sátira sobre a prova de resistência, quando ocorreu a discussão entre Diego e Bella. Na ocasião, Diego disse que o maior problema não era ficar em pé durante horas, e sim ficar sem cigarro
 
Lotufo aproveitou para dar uma sugestão aos  produtores do reality. "Poderíamos aproveitar esse momento para inserir um tratamento a quem quiser parar". O próprio apresentador, Pedro Bial, enfrentou o vício no cigarro. Em uma entrevista ao "Mais Você", em 2012, ele disse que um enfisema comprometeu seu pulmão. Ele já está há quase nove anos sem fumar. "Eu fiquei superintolerante, mandei muita gente para aquele lugar. Gente que eu já estava com vontade de mandar para aquele lugar há muito tempo, e veio o pretexto do cigarro", afirmou o jornalista na época.
 

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