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11/02/2010 - 01h18

Segunda edição foi um programa infantil em horário nobre

MAURICIO STYCER
Crítico do UOL
  • Reprodução

    Karina Bacchi vence a "morna" segunda edição do reality "A Fazenda"

Depois de 88 dias de programa, vencido pela atriz Karina Bacchi, do elenco da própria Record, parece evidente a todos, inclusive dentro da emissora, que houve um erro de cálculo na aposta de começar uma segunda edição de "A Fazenda" menos de três meses depois de encerrada a primeira.

 

Erro semelhante foi cometido pela Globo em 2002, quando exibiu a segunda edição do "Big Brother Brasil" pouco tempo depois de encerrada a primeira. A coincidência faz pensar que, no esforço de mimetizar a programação da sua principal concorrente, a Record mostra disposição para abraçar tanto o que dá certo quanto o que não funciona.

 

Um reality show conta sempre a mesma história, com a mesma dinâmica e o final sempre idêntico, ainda que cada grupo confinado crie o seu próprio enredo. Daí os criadores destes formatos recomendarem um espaçamento grande entre as edições, de maneira a esticar a sua vida útil.

 

Quanto mais apimentado e surpreendente o enredo que resulta da convivência forçada dos participantes, mais interessante é o programa. No caso de "A Fazenda", cujo elenco tem sido formado por “celebridades”, e não por anônimos, a chance de o enredo ser tedioso é maior – já que pessoas conhecidas têm mais a perder com este tipo de exposição. Daí o papel-chave de quem escala o time – algo que faz de Silvio Santos, até hoje, campeão imbatível com o mix e o caos que ofereceu na primeira "Casa dos Artistas".


Os participantes que até agora toparam integrar "A Fazenda" são, de maneira geral, figuras cujas carreiras não estão no auge, motivo pelo qual entendem que o programa é uma grande oportunidade de serem notadas, relembradas ou relançadas.


Mas, para a maioria, e no elenco da segunda Fazenda isso foi ainda mais gritante, ser notado significou deixar o tempo passar sorrindo, abraçando e beijando os companheiros ao final de cada prova de esforço físico, comendo e dormindo, tomando banho de sunga ou biquíni e dando de comer para os bichinhos da fazenda.

 

De quem nos lembraremos da Fazenda? Na primeira edição, o único participante que surpreendeu foi o ator Theo Becker. Nesta, a exceção foi o ator Igor Cotrim. Em comum, os dois contaram com o fato de que, por serem menos conhecidos do grande público, tinham pouquíssimo a perder – e eventualmente poderiam até lucrar – ao posarem de malucos. A favor de Igor, em relação a Theo, deve-se dizer que é dono de aguçado espírito crítico e ironia, que distribuiu a valer na casa.


O modelo Caco Ricci também esboçou deixar uma marca no reality. Mas, cercado de atores, quase todos vinculados de um ou outro jeito à própria Record, faltou-lhe tarimba para se sobressair e convencer o público.


O que mais de notável ocorreu? Quem mais se destacou? Britto Jr. discorda que esta edição da Fazenda tenha sido “morna”, como lhe indagou o site oficial do programa. “As brigas foram muito mais psicológicas, do tipo cutucada e alfinetada”, disse.


Se é verdade, isso reforça a impressão que a edição da Record, inábil, explorou mal os poucos momentos divertidos, quando não pareceu envergonhada de mostrar ou provocar situações que revelassem algo além da obviedade. E as tais “brigas psicológicas” ficaram submersas...


O apresentador, já confirmado para a terceira edição, segue mal acomodado no papel que lhe cabe. Nem parece à vontade no papel de animador de auditório, nem exibe o raciocínio rápido e a irreverência que se espera de alguém confrontado com situações e diálogos inesperados.

 

Essa combinação de um elenco sem química, somada a uma edição tímida e um apresentador com pouco traquejo resultou num programa sem sal, sem tensão sexual, sem surpresas e alguns palavrões gritados. Um programa infantil, de certa forma – o que não combina com o seu horário nobre.


Ao confirmar, ao site oficial do programa, que a Record planeja exibir "A Fazenda 3" ainda em 2010, possivelmente no segundo semestre, Britto Jr. confirmou a impressão geral que foi um erro promover duas edições do reality tão próximas uma da outra.


“É claro que teremos 'A Fazenda 3'. Mas todos nós envolvidos com o programa e a direção da emissora acreditamos que é preciso dar um tempo para o público respirar, senão desgasta”, disse. O público agradece. E torce por um elenco mais surpreendente e uma edição mais ousada no próximo.
 

Mauricio Stycer

Mauricio Stycer é repórter especial e crítico do UOL. Jornalista desde 1986,
já trabalhou no "Jornal do Brasil", "Estadão", "Folha de S.Paulo", "Lance!",
"Época" e "CartaCapital", entre outros.

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