O jogador levou a disputa muito a sério e não mostrou o humor pelo qual era conhecido
De todos os participantes da terceira edição da “Fazenda”, o que mais me surpreendeu foi Viola, um dos poucos que eu conhecia antes de o reality show começar. Primeiro, porque nunca imaginei que um jogador com a sua história tivesse a coragem de se expor desta maneira. E segundo, por descobrir no programa uma figura muito diferente da imagem pública que ele cultivou.
Viola consagrou-se como jogador do Corinthians, o time com a segunda maior torcida do País. Na sua primeira partida como titular, em 1988, jogando com a camisa 9, fez o gol que deu o título paulista ao time, na prorrogação, contra o Guarani.
Em outra prorrogação, na final da Copa do Mundo, em 1994, saiu do banco para jogar quando faltavam poucos minutos para o fim e teve a chance, desperdiçada, de fazer o gol do título – conquistado em seguida nos pênaltis. “Você ajudou o Brasil a ser campeão”, disse Britto Jr, falando a verdade, após anunciar a eliminação do jogador com 76% dos votos, uma rejeição de grandes proporções.
Por todos os times por onde atuou, o que inclui Vasco, Palmeiras e Santos, Viola sempre chamou a atenção pelo jeito brincalhão, debochado e descontraído. Numa de suas cenas mais famosas, comemorou um gol do Corinthians sobre o Palmeiras imitando um porco em campo.
Ao falar sobre si próprio, na véspera da eliminação, Viola lembrou que passou por vários clubes e pela seleção. “Cheguei no topo”, disse. “As pessoas me conhecem, sabem que dou risada”, observou. “Sei perder, mas sempre jogo para ganhar. O que erra menos, vence”.
Onde será que Viola errou? O jogador parece ter encarado o reality show como uma decisão de campeonato. Não à toa, vestiu uma camisa da seleção brasileira, com o número 9 às costas, em sua última noite.
Torcedor na arquibancada gosta de jogador que disputa cada lance com garra e se mata pelo time, mas quem está ali na poltrona, comendo pipoca, talvez prefira gestos mais sutis. É possível que Viola precisasse muito do prêmio, mas não deveria ter demonstrado isso de forma tão ostensiva.
Viola deu poucas risadas durante o programa. Tentou vencer cada prova como se fosse final de Copa do Mundo. Não entendeu algumas piadas que fizeram com ele, nem as estratégias de seus adversários. Não soube lidar com o humor de altos e baixos de alguns colegas de confinamento. Foi ofendido, mas ficou com fama de vilão. Difícil acreditar, como disse Britto Jr., que "sua vida vai melhorar" depois da saída da "Fazenda".
O repórter especial e crítico do UOL comentou os reality shows "A Fazenda 2" e "BBB10" e cobriu a Copa do Mundo na África do Sul e as eleições 2010, entre outros textos publicados